Os dados foram divulgados à agência Lusa pelo coordenador regional de Lisboa e vale do Tejo do projeto “Mais Contigo”, João Marques, a propósito no Dia Mundial da Saúde, hoje assinalado.
Analisando o último ano letivo, o enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiátrica da Unidade Local de Saúde (ULS) São José, em Lisboa, afirmou que houve “uma melhoria com significado estatístico” do bem-estar, da autoestima e da sintomatologia depressiva nos jovens.
“A sintomatologia depressiva tem sido algo que tem sido melhorado de forma sistemática desde o início do programa e que é muito importante, porque tem uma forte correlação com a ideia suicida e os comportamentos suicidários”, salientou.
João Marques adiantou que antes da pandemia de covid-19, no ano letivo 2018/2019, a sintomatologia depressiva moderada a grave era de 17,6% nos adolescentes em programa, um valor que aumentou após o contexto pandémico.
“Imediatamente a seguir ao primeiro ano de confinamento situou-se nos 28,1% e foi subindo até ao pico em 2022/23” que atingiu os 30,1%.
Em 2023/24 houve a “boa notícia” desse número ter descido para 26,2%, disse o especialista, ressalvando, contudo, que não se pode ainda dizer que “a tendência é de redução”.
“Podemos dizer que no ano letivo passado reduziu, mas nestas questões relacionadas com os comportamentos suicidários, precisamos de três a cinco anos de dados para perceber se a tendência efetivamente se vai consolidar numa descida ou não”, explicou.
O “Mais Contigo” foi criado em 2009 pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e pela Administração Regional de Saúde do Centro, tendo começado por ser um projeto local. Hoje cobre todo o país e abrange cada vez mais alunos do terceiro ciclo e do ensino secundário.
“O crescimento tem sido muito significativo. Por exemplo, em 2021/22 eram 5.800 alunos em programa. No ano letivo que passou foram 17.000 alunos”, realçou.
Adiantou que no último ano letivo as equipas – compostas por profissionais de saúde das escolas e dos centros de saúde, professores, entre outros – estiveram em 196 agrupamentos de escolas, dentro das quais 240 escolas em intervenção, mais 19 escolas não agrupadas e seis colégios.
Nas escolas, ao longo do ano letivo, os alunos têm sessões sobre temas tão variados como o estigma em saúde mental, a adolescência, estratégias de resolução de problemas e de melhoria da autoestima ou a sintomatologia depressiva
Antes da intervenção junto dos adolescentes, há uma sessão de sensibilização aos agentes educativos (assistentes operacionais, docentes, psicólogos, assistentes sociais) e depois junto dos para estarem disponíveis para acolher o pedido de ajuda do jovem e encaminhá-lo
“Nas questões relacionadas com a saúde mental um dos fortes inibidores da procura de ajuda tem a ver com o estigma e com o preconceito e, portanto, começamos por trabalhar a comunidade educativa nesse sentido”, disse João Marques, vincando que “a adolescência é muito marcante.
O coordenador contou que no início das sessões há por parte dos jovens “uma sensação de estranheza, de grande defesa”, mas o importante é que saibam que se precisarem de ajuda podem pedir para falar com a equipa “à parte e fora do contexto de turma”.
A trabalhar na Clínica da Juventude, no Hospital Júlio de Matos, João Marques destacou o esforço “muito grande” que a ULS São José tem feito para que “os profissionais possam continuar a intervir na área do Mais Contigo e a em proximidade com as escolas”, tendo mesmo criado uma consulta de enfermagem em contexto escolar na sequência de uma crise de um agrupamento de escolas, onde há cerca de sete anos se suicidaram três alunos.
NR/HN/Lusa
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