Neurociência distingue mindfulness de placebo no alívio da dor

3 de Novembro 2024

Investigação pioneira com 115 participantes demonstra que a meditação mindfulness ativa mecanismos cerebrais distintos do efeito placebo para reduzir a dor, revelando-se mais eficaz que outras intervenções

Uma investigação revolucionária publicada na revista Biological Psychiatry demonstrou que a meditação mindfulness utiliza mecanismos cerebrais únicos, diferentes do efeito placebo, para reduzir a dor. O estudo, realizado com 115 participantes saudáveis, vem contrariar a ideia estabelecida de que esta prática milenar funcionaria principalmente através do efeito placebo.

A investigação dividiu-se em dois ensaios clínicos, nos quais os participantes foram distribuídos aleatoriamente por quatro grupos de intervenção: meditação mindfulness focada na respiração sem julgamento, meditação simulada apenas com respiração profunda, aplicação de um creme placebo (vaselina) apresentado como analgésico, e um grupo de controlo que ouviu um audiolivro.

Durante as experiências, os investigadores aplicaram um estímulo térmico doloroso, mas inofensivo, na parte posterior da perna dos participantes, monitorizando simultaneamente a atividade cerebral através de ressonância magnética funcional. Para análise dos padrões cerebrais, utilizaram uma nova abordagem denominada análise multivariada de padrões, que recorre a aprendizagem automática para descodificar os complexos mecanismos neurais subjacentes à experiência da dor.

Os resultados revelaram que, embora tanto o creme placebo como a meditação simulada tenham reduzido a dor, a meditação mindfulness foi significativamente mais eficaz que todas as outras intervenções. Mais importante ainda, descobriu-se que esta prática reduz a sincronização entre áreas cerebrais envolvidas na introspeção, autoconsciência e regulação emocional, que compõem o Sinal Neural da Dor (NPS).

Em contraste, o creme placebo e a meditação simulada não demonstraram alterações significativas no NPS em comparação com o grupo de controlo, ativando mecanismos cerebrais completamente distintos e com pouca sobreposição.

Esta descoberta tem implicações significativas para o desenvolvimento de novos tratamentos para a dor crónica, uma vez que na medicina moderna as novas terapias são consideradas eficazes quando superam o efeito placebo. No entanto, os investigadores salientam a necessidade de mais estudos com pessoas que sofrem de dor crónica para confirmar estes resultados.

NR/HN/Alphagalileo

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

DGS: Medidas preventivas para o tempo frio e seco em Portugal

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu um comunicado alertando para a continuação de tempo frio e seco em Portugal, especialmente nas regiões do interior, conforme as previsões meteorológicas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Esta situação deverá persistir pelo menos até ao final da semana.

Cientistas alertam para riscos de mosquito do dengue em Portugal

Investigadores do Laboratório Associado Terra alertaram hoje para os riscos para a saúde pública da presença em Portugal do mosquito ‘Aedes albopictus’, que pode transmitir doenças virais como a dengue, a chikungunya e a Zika.

MAIS LIDAS

Share This