Descoberta de proteína IRGQ abre portas para novas terapias contra o cancro do fígado

10 de Novembro 2024

Investigadores da Universidade Goethe de Frankfurt descobriram um sensor celular que garante que apenas moléculas MHC-I funcionais são transportadas para a membrana plasmática, eliminando as defeituosas.

Investigadores da Universidade Goethe de Frankfurt descobriram um novo mecanismo que permite às células cancerígenas escapar ao sistema imunitário. O estudo, liderado pela Dra. Lina Herhaus e pelo Prof. Ivan Đikić, revelou a existência de um sensor celular responsável por garantir que apenas moléculas MHC-I funcionais sejam transportadas para a membrana plasmática, enquanto as unidades defeituosas são eliminadas.

Estrutura IRGQ (rosa/laranja): A IRGQ está ancorada através de outra proteína (cinzenta) na membrana dos “sacos de lixo” nos quais as moléculas MHC-I não funcionais são empacotadas. Os sacos mais tarde fundem-se com os lisossomas, o que inicia a degradação das moléculas. Imagem: Henry Bailey, Universidade Goethe de Frankfurt

As moléculas MHC-I, comparáveis a “antenas de rádio” moleculares, apresentam na superfície celular fragmentos de quase todas as proteínas contidas no interior da célula. Isto permite ao sistema imunitário reconhecer diretamente se uma célula foi infetada por um vírus ou sofreu uma alteração perigosa devido a uma mutação. Se as tropas do sistema imunitário detetarem moléculas nocivas apresentadas nas “antenas de rádio” MHC-I, eliminam a célula em questão.

No entanto, para que este mecanismo funcione, as próprias “antenas” devem estar totalmente funcionais. A equipa de investigação descobriu uma proteína chamada IRGQ, responsável por garantir o controlo de qualidade das moléculas MHC-I. Ao suprimir a produção de IRGQ, os investigadores observaram uma acumulação de “antenas de rádio” defeituosas nas células, algumas das quais foram incorporadas na membrana celular juntamente com as suas contrapartes funcionais.

Surpreendentemente, a análise de vários tumores humanos revelou que níveis mais baixos de IRGQ estavam associados a uma maior taxa de sobrevivência em pacientes com cancro do fígado. Estes dados foram confirmados num modelo experimental de cancro do fígado em ratos: nos animais sem IRGQ, o sistema imunitário atacou as células tumorais de forma muito mais agressiva, resultando numa sobrevivência significativamente mais longa.

A IRGQ pode representar uma estrutura-alvo para novos medicamentos, pelo menos para carcinomas de células hepáticas, o segundo tipo de cancro mais mortal do mundo. Os investigadores pretendem examinar a influência da IRGQ noutros tipos de cancro e explorar o seu potencial para o desenvolvimento de novas terapias para o cancro do fígado, como medicamentos que visem a degradação da IRGQ para estimular a resposta imunitária contra o cancro.

Além disso, o mecanismo recém-descoberto é também interessante para a investigação básica, levantando questões sobre a importância da IRGQ para o funcionamento do sistema imunitário em geral, inclusive durante infeções virais. As respostas a estas questões poderão aprofundar a compreensão da defesa imunitária do corpo.

NR/HN/Alphagalileo

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