Healthnews (HN) – Professor Duarte Barral, pode explicar em termos simples o que é o “melanoquerassoma” e como esta descoberta difere do que já sabíamos sobre a preservação da melanina na pele?
Duarte Barral (DB) – Este é um compartimento que existe dentro dos queratinócitos da nossa pele e que permanecia por caracterizar até agora. A caracterização que fizemos permite-nos compreender melhor como é que a melanina se acumula dentro destas células numa estrutura semelhante a um chapéu posicionado sobre o núcleo e que se mantém estável nesse local durante a vida útil da célula.
HN – Quais foram os principais desafios enfrentados pela equipa durante esta investigação e como conseguiram superá-los?
DB – Quando estudamos algo desconhecido, o caminho seguido não é linear e há que transpor obstáculos de natureza técnica e científica, o que também faz com que as descobertas demorem algum tempo. Além das dificuldades inerentes ao processo de investigação científica, vivemos num período em que os financiamentos escasseiam, sobretudo para a investigação dita fundamental, como é o caso. Estes obstáculos só podem ser superados com muita persistência (e mesmo teimosia) e acreditando que o que estamos a fazer vale a pena e irá dar frutos mais à frente.
HN – De que forma esta descoberta pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção do cancro de pele, particularmente o melanoma?
DB – Esta descoberta, juntamente com as que foram feitas pelo nosso grupo nos últimos 10 anos sobre os processos que ocorrem desde a produção da melanina até à formação do melanoquerassoma, ajuda, em primeiro lugar, a compreender como funciona o processo de pigmentação que confere a cada pessoa um tom de pele característico. Além disso, poderá, no futuro, contribuir para o desenvolvimento de estratégias que aumentem a proteção contra cancros de pele, como o melanoma, e soluções terapêuticas para distúrbios da pigmentação, como o lentigo solar e o melasma.
HN – Como é que o conhecimento deste novo compartimento celular pode influenciar o tratamento de distúrbios de pigmentação como o lentigo solar e o melasma?
DB – Sabemos hoje que o processamento da melanina nos queratinócitos desempenha um papel fundamental na definição do tom da pele de cada um de nós e, por isso, é expectável que possamos alterá-lo se afetarmos estes processos. Além disso, os distúrbios de hiperpigmentação são causados pela acumulação anormal de melanina, pelo que se compreendermos como ocorre, poderemos desenvolver estratégias para os corrigir.
HN – Que implicações esta descoberta pode ter para a indústria de cosméticos e protetores solares? Podemos esperar novos produtos baseados nesta investigação?
DB – Sim, pois a melanina funciona como um protetor solar natural, tanto mais eficaz quanto mais escura for a pele. Por isso, se conseguirmos aumentar a quantidade de melanina acumulada nos queratinócitos, conseguiremos que a pele fique mais protegida da radiação UV. Esta e outras descobertas feitas pelo nosso grupo permitem-nos, por isso, conceber estratégias que possam aumentar a proteção da pele contra a radiação ultravioleta e o desenvolvimento de cancros de pele.
HN – Quais são os próximos passos da investigação? Há algum aspeto específico do “melanoquerassoma” que a equipa pretende explorar mais profundamente?
DB – Queremos agora interferir com a acumulação da melanina dentro dos queratinócitos como prova de conceito para o uso deste conhecimento na modulação da pigmentação da pele. Também queremos perceber o papel da radiação ultravioleta no processamento de melanina dentro dos queratinócitos e continuar a aprofundar o conhecimento sobre os mecanismos moleculares e celulares que conferem à pele de cada indivíduo um tom característico.
Entrevista: Miguel Múrias Mauritti
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