Falta de saneamento e aumento da pobreza potenciam cólera em Angola

8 de Janeiro 2025

O presidente do Sindicato dos Médicos de Angola (SINMEA), Adriano Manuel, disse hoje que a falta de saneamento, aumento da pobreza e desinvestimento na saúde preventiva potenciam o surgimento da cólera no país, referindo que “não faltaram avisos”.

As autoridades angolanas anunciaram na terça-feira o registo de cinco mortes em 25 casos suspeitos de cólera, no bairro Paraíso, município de Cacuaco, província de Luanda, divulgou o Ministério da Saúde.

“A causa da cólera está intrinsecamente relacionada com o saneamento básico, esta é a causa principal e o saneamento básico tem relação com a pobreza, […] aumentou a pobreza no nosso país e as pessoas estão a lutar pela sobrevivência e vão à busca de comida no lixo”, disse hoje Adriano Manuel à Lusa.

Segundo o médico angolano, a insalubridade do meio ambiente, agravada com a recolha irregular do lixo, e a escassez de água, sobretudo em zonas periféricas da capital angolana, potenciam o surgimento de várias doenças.

“Não há recolha do lixo, não há tratamento da água (…) como a água não é tratada e a alimentação concomitantemente não é tratada, isso influencia negativamente para que tenhamos cólera no nosso país”, referiu.

Adriano Manuel considerou a cólera como um problema de saúde pública, lamentando a “falta de investimentos” no sistema primário de saúde que, no seu entender, “resolveria 90%” das grandes questões relacionadas com o perfil epidemiológico do país.

O que “mais mata em Angola é a malária, doenças diarreicas agudas, doenças respiratórias, tudo isso com um sistema de saúde primário funcional” seria resolvido, notou.

Segundo a nota do Ministério da Saúde, as pessoas apresentam sintomas de vómitos e diarreia aquosa, tendo o gabinete provincial da Saúde de Luanda acionado “imediatamente” medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

As medidas, em coordenação com outras instituições, incluem a desinfeção das áreas contaminadas, identificação e rastreamento de contactos, assim como a investigação epidemiológica e laboratorial aprofundada para a confirmação dos casos suspeitos.

Para o presidente do SINMEA, o país precisa de implementar um forte sistema de educação para a saúde com o apoio da comunicação social e campanhas de sensibilização promovidas pelas administrações locais, acreditando que o país poderá não ter controlo sobre um surto de cólera.

“Não há no nosso país um sistema que vai conseguir controlar o surto, porque não há medicamentos, temos dificuldades de soro de reidratação em muitos hospitais, há um défice de medicamentos nos hospitais”, referiu.

Sinalizou também que as empresas fornecedoras de medicamentos “estão há quase 11 meses sem ser pagas” e “quando isso acontece há este défice de medicamentos [nos hospitais]”.

“Infelizmente, o Governo insiste na inversão da pirâmide, isto é, investe num sistema curativo quando deveria investir num sistema preventivo e estamos a ver aí a questão da cólera, aviso não faltou”, concluiu o médico pediatra.

NR/HN/Lusa

 

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