Exposição ao ruído dos aviões associada a problemas cardíacos

9 de Janeiro 2025

As pessoas que vivem perto de aeroportos e estão expostas a níveis elevados de ruído das aeronaves podem ter um maior risco de sofrer problemas cardíacos e são mais propensas a sofrer ataques cardíacos, arritmias potencialmente fatais e AVC.

Esta é a principal conclusão de um estudo observacional, publicado no Journal of the American College of Cardiology e liderado por investigadores da University College London (UCL), no Reino Unido, após analisar dados de imagens cardíacas de 3.635 pessoas que vivem perto de quatro grandes aeroportos de Inglaterra.

A equipa comparou os corações daqueles que viviam em áreas com maior ruído de aeronaves com aqueles que viviam em áreas com menor ruído e descobriu que aqueles que foram expostos a níveis mais elevados do que os recomendados de ruído de aeronaves tinham músculos cardíacos mais rígidos, que contraíam-se e expandiam-se menos facilmente e eram menos eficazes a bombear o sangue pelo corpo, noticiou na quarta-feira a agência Efe.

Estes dados correspondiam em particular em pessoas expostas a mais ruído de aeronaves à noite, o que pode dever-se a fatores como distúrbios do sono e ao facto de as pessoas terem maior probabilidade de ficar em casa à noite e, portanto, expostas ao ruído.

Além disso, os investigadores descobriram que estes tipos de defeitos cardíacos podem duplicar ou quadruplicar o risco de ter um evento cardíaco grave, como ataque cardíaco, arritmias cardíacas fatais ou acidente vascular cerebral (AVC), em comparação com o risco de pessoas sem qualquer uma destas anomalias cardíacas.

“O nosso estudo é observacional, pelo que não podemos dizer com certeza que os elevados níveis de ruído das aeronaves causaram estas diferenças na estrutura e função do coração, mas os nossos resultados vêm juntar-se a um crescente corpo de evidências de que o ruído das aeronaves pode afetar negativamente a saúde cardíaca e a nossa saúde geral”, explicou Gaby Captur, principal autora do estudo e cardiologista consultora no Royal Free Hospital, em Londres.

O ruído ambiental, para além de afetar a qualidade do sono, pode desencadear respostas de stress e provocar hiperatividade do sistema nervoso simpático, aumento da pressão arterial, constrição ou dilatação das artérias e digestão mais lenta.

Também pode desencadear a libertação de cortisol, a hormona do ‘stress’, o que pode aumentar o apetite e levar ao aumento de peso.

Além disso, sabe-se que a exposição a níveis elevados de ruído das aeronaves está associada ao aumento da pressão arterial e à obesidade.

No novo estudo, ambos os fatores explicam uma parte significativa da relação entre o ruído da aeronave e as diferenças na estrutura e função do coração.

Para o estudo, a equipa analisou os dados do UK Biobank, uma enorme base de dados genética que é utilizada como um recurso de acesso aberto para fins científicos, de 3.635 participantes que foram submetidos a exames detalhados de ressonância magnética cardíaca (RM) e que viviam perto dos aeroportos de Heathrow, Gatwick, Birmingham ou Manchester.

Entre os participantes do UK Biobank destas áreas, 8% viviam numa área com muito ruído de aeronaves durante o dia, e 3% numa área com muito ruído à noite.

NR/HN/Lusa

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Cólera mata 17 pessoas em Angola em 24 horas

O número de casos de cólera em Angola continua a aumentar, totalizando 7.284 desde 07 de janeiro, com mais 165 registos e 17 mortes nas últimas 24 horas, o maior número desde o início do surto.

Entrevista exclusiva: Dulce Bouça revela o sucesso do projeto RIPA

O projeto RIPA, uma abordagem inovadora no tratamento das perturbações do comportamento alimentar em Portugal, tem apresentado resultados promissores. Numa entrevista exclusiva ao Healthnews, a Psiquiatra Coordenadora Dulce Bouça destaca o sucesso do modelo de Hospital de Dia, que evita o internamento tradicional e prioriza a manutenção das ligações familiares e sociais, com 90% das participantes a evitarem agravamento ou internamento.

Erica Nishimura: Desvendando novos horizontes na terapia da diabetes

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, a Professora Erica Nishimura (na imagem), vice-presidente científica para a área da Diabetes, Obesidade e MASH (acumulação de gordura no fígado) no Departamento de Investigação e Desenvolvimento Precoce na Novo Nordisk, partilha insights sobre os avanços revolucionários no tratamento da diabetes. Desde análogos de insulina sensíveis à glucose até terapias semanais, Nishimura revela como estas inovações estão a transformar a gestão da doença

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights