Caso gémeas: Neuropediatra do Sta. Maria diz que médica foi pressionada a marcar consulta

11 de Janeiro 2025

O neuropediatra Tiago Proença dos Santos, do Hospital Santa Maria, disse hoje que a médica Teresa Moreno foi pressionada para marcar a primeira consulta das gémeas luso-brasileiras em 2019, mas referiu que nenhum clínico admitiu “interferência política”.

“Recordo que foi feita pressão sobre Teresa Moreno para fazer a marcação. Teresa Moreno não marcou [de imediato] e depois há essa pressão. Não é um pedido inocente”, afirmou Tiago Proença dos Santos na comissão parlamentar de inquérito ao caso das crianças tratadas para atrofia muscular espinal em Lisboa, em 2020.

A neuropediatra Teresa Moreno já havia relatado insistências por parte da diretora de pediatria do Hospital de Santa Maria, Ana Isabel Lopes, para que o agendamento fosse feito, com referências então diretor clínico da unidade Luís Pinheiro.

O médico indicou que foi “aberta uma Caixa de Pandora” e que o Serviço de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria começou a “ter pedidos de cidadãos de outros países, de lusodescendentes ou de outros países não relacionados com Portugal”.

“Nunca houve uma resposta formal”, salientou, adiantando que “nunca teve qualquer interferência política na marcação da consulta”, nem qualquer outro médico “manifestou interferência política para marcação de uma consulta”.

Tiago Proença dos Santos esclareceu, no entanto, que “o primeiro pedido foi feito pela mãe [das crianças] através de email”, mas desconhece de quem foram os outros.

“Não sei responder. Acho que Teresa Moreno já respondeu”, observou.

O médico disse ainda que “não fazia ideia” quem era o secretário de Estado da Saúde, na altura dos factos, e que não sabe se é verdade se houve um pedido de António Lacerda Sales para a marcação da consulta.

“Até isto ser discutido, não fazia ideia quem era o secretário de Estado. Nunca ouvi falar de um nome em concreto. Ouvi falar em secretário de Estado, mas não sei se é secretário de Estado ou secretária de Estado. Sabia que houve um pedido da secretaria de Estado da Saúde, mas não faço ideia se é verdade. Não faço ideia se isso é verdade”, ressaltou.

O neuropediatra explicou também que “a marcação da consulta é um ato administrativo” e que os médicos “nunca acharam que as doentes não deveriam ser tratadas”, mas que não devia ser acelerada, referindo-se à carta enviada ao então diretor clínico do Santa Maria Luís Pinheiro.

“Nós não pedimos para negar nada, só pedimos para não agilizar. A nossa questão era se deveriam ser presentes nessa consulta. (…) Elas já estavam salvas. Quando fazem o tratamento [com Zolgensma] já tinham sido salvas com o tratamento que estavam a ter no Brasil”, considerou.

Segundo o clínico, à data da marcação da primeira consulta, em 5 de dezembro de 2019, “não estavam reunidas condições” para as crianças se deslocarem a Portugal.

O principal autor da carta dirigida ao então diretor clínico Santa Maria a contestar o tratamento explicou que o texto é uma chamada de atenção aos “responsáveis para que façam uma reflexão” sobre as prioridades da unidade hospitalar e para demonstrar desconforto por pessoas não-residentes no país terem acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“A nossa preocupação foi de natureza económica. Queríamos alertar para a despesa. A nossa preocupação era avisar o Conselho de Administração que aquilo que nos estavam a pedir ia custar 4 milhões de euros”, alertou, precisando que não estava em causa o uso da “cunha”.

Rejeitando comentar os rumores no hospital de referências às crianças como “as meninas do Presidente”, Tiago Proença dos Santos informou ainda que “não houve nenhum cidadão português prejudicado” por as crianças terem tido o tratamento com Zolgensma.

lusa/HN

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