Linha SOS Voz Amiga vai usar inteligência artificial para atender em 21 línguas

12 de Março 2025

A Linha SOS Voz Amiga disponibiliza a partir de quinta-feira apoio telefónico em 21 línguas, com recurso a inteligência artificial, disse hoje à Lusa o presidente da instituição de solidariedade social, Francisco Paulino.

“O apoio vai ser precisamente o mesmo, porque o sofrimento não tem fronteiras, a solidão aqui ou no Canadá ou na Austrália, é a mesma. O que isto nos vai permitir agora é darmos uma resposta mais inclusiva”, referiu o responsável.

Francisco Paulino afirmou que até ao momento a equipa de voluntários que assegura o atendimento tem tido a experiência do contacto com emigrantes portugueses: “Ligam muitas vezes, normalmente a solidão é o que acontece com mais frequência, quando estamos num país que não é o nosso, não conhecemos a cultura, não nos sabemos movimentar”.

A Linha começou, entretanto, a receber chamadas de estrangeiros, mas nem todos os colaboradores têm formação que lhes permita responder em inglês ou noutras línguas.

A partir de agora, os voluntários vão usar no atendimento telemóveis com uma tecnologia que permite um serviço automático de intérprete em tempo real.

“Isto realmente é uma ferramenta que nos vai permitir atender toda e qualquer pessoa”, explicou, acrescentando que a iniciativa só é possível graças à doação de 62 telemóveis pela Samsung, fabricante de equipamentos com esta tecnologia.

“Todos sabemos que o número de imigrantes que temos agora em Portugal já é um bom milhão. Claro que estão incluídos os brasileiros e dos PALOP [países de expressão portuguesa], mas ainda sobram muitos outros e assim vão ter oportunidade, quando necessitarem de nos contactar”, indicou.

A Linha recebe por vezes contactos, também através de correio eletrónico, de pais de estudantes estrangeiros em Portugal, em busca de apoio para situações que afetam os filhos.

“Perguntam-nos se atendemos em inglês. Pontualmente, sim. Mas como os turnos são aleatórios não podemos garantir que em qualquer momento está alguém que possa responder em inglês. Com esta nova possibilidade isso é ultrapassado”, garantiu Francisco Paulino.

A Linha também já tem atendido portugueses que estão presos no estrangeiro e a direção conta agora poder responder a contactos de presos estrangeiros em Portugal.

Criada em 1978, a SOS Voz Amiga, regista um aumento de procura sempre que há situações de crise económica. Com a pandemia de covid-19 verificou-se um crescimento exponencial, segundo Francisco Paulino.

“Estávamos a atender 600 chamadas por mês, em 2019. Passámos a ter 1.000 a 1.100 e não atendemos mais porque na altura tínhamos ainda menos voluntários”, declarou.

“A pandemia aumentou de uma forma extraordinária tudo o que está relacionado com ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais e tem-se mantido”, assegurou o responsável.

A média de chamadas por ano passou de 6.000 para 10.000.

“Uma outra alteração que estamos a notar e também foi depois da pandemia é que cada vez temos mais jovens pré-adolescentes a ligar. Isso não acontecia há cinco ou seis anos. Essa é uma das alterações que temos verificado nos últimos anos”, constatou.

“Temos chamadas de garotos com 12 e 13 anos, com ideias muito preocupantes. A queixarem-se de que a vida é uma tristeza e que não andam cá a fazer nada”, alertou Francisco Paulino.

O serviço passa a estar disponível em 21 línguas, de acordo com a mesma fonte.

Os telemóveis que os voluntários vão usar no atendimento estão providos de tecnologia que permite um serviço automático de intérprete em tempo real.

lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Cólera mata 17 pessoas em Angola em 24 horas

O número de casos de cólera em Angola continua a aumentar, totalizando 7.284 desde 07 de janeiro, com mais 165 registos e 17 mortes nas últimas 24 horas, o maior número desde o início do surto.

Entrevista exclusiva: Dulce Bouça revela o sucesso do projeto RIPA

O projeto RIPA, uma abordagem inovadora no tratamento das perturbações do comportamento alimentar em Portugal, tem apresentado resultados promissores. Numa entrevista exclusiva ao Healthnews, a Psiquiatra Coordenadora Dulce Bouça destaca o sucesso do modelo de Hospital de Dia, que evita o internamento tradicional e prioriza a manutenção das ligações familiares e sociais, com 90% das participantes a evitarem agravamento ou internamento.

Erica Nishimura: Desvendando novos horizontes na terapia da diabetes

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, a Professora Erica Nishimura (na imagem), vice-presidente científica para a área da Diabetes, Obesidade e MASH (acumulação de gordura no fígado) no Departamento de Investigação e Desenvolvimento Precoce na Novo Nordisk, partilha insights sobre os avanços revolucionários no tratamento da diabetes. Desde análogos de insulina sensíveis à glucose até terapias semanais, Nishimura revela como estas inovações estão a transformar a gestão da doença

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights