A simples contemplação de obras de arte – seja numa galeria, hospital, sala de estar ou mesmo através de plataformas digitais – pode ter um impacto significativo e positivo no bem-estar das pessoas. Esta é a principal conclusão de um estudo internacional liderado pela Universidade de Viena, publicado na revista The Journal of Positive Psychology, que analisou 38 estudos envolvendo 6.805 participantes de vários países europeus.
Ao contrário do que se pensava, não é apenas a criação artística que traz benefícios para a saúde mental: o ato de observar arte, repetidamente ou em sessões únicas, mostrou-se eficaz na promoção do bem-estar, sobretudo ao nível do chamado bem-estar eudaimónico – relacionado com o sentido, propósito e desenvolvimento pessoal. Os efeitos positivos foram observados em contextos tão diversos como museus, hospitais, casas particulares e até experiências virtuais, abrangendo desde pinturas clássicas, como “O Grito” de Edvard Munch e “A Noite Estrelada” de Van Gogh, a instalações contemporâneas e fotografia.
O estudo destaca cinco mecanismos psicológicos que explicam como a fruição da arte apoia o bem-estar:
- Mecanismos afetivos: regulação emocional e prazer estético.
- Mecanismos cognitivos: atenção, memória e aprendizagem, estimulando reflexão e curiosidade.
- Mecanismos sociais: experiências partilhadas que promovem ligação e combatem o isolamento.
- Mecanismos auto-transformativos: reforço da identidade e sentido de vida.
- Mecanismos de resiliência: apoio à adaptação emocional e recuperação, especialmente em ambientes clínicos ou de elevado stress.
As intervenções analisadas variaram entre sessões individuais e programas prolongados, muitas vezes combinando a observação de arte com atividades acessórias, como reflexão guiada, exercícios criativos ou discussão em grupo. Estratégias reflexivas, como o registo em diário ou avaliação emocional, foram particularmente eficazes na amplificação dos benefícios.
A investigação sublinha ainda que a arte pode ser uma ferramenta acessível e de baixo custo para promover a saúde mental, recomendando a sua integração deliberada em espaços públicos, hospitais, escolas e até ambientes virtuais, de forma a beneficiar o maior número de pessoas possível. Para garantir a qualidade e comparabilidade dos futuros estudos, os autores desenvolveram as diretrizes RAARR (Receptive Art Activity Research Reporting Guidelines), que visam padronizar a investigação nesta área emergente.
Os resultados reforçam o potencial da arte enquanto recurso de saúde pública, apelando a decisores, profissionais de saúde e educadores para que considerem a sua inclusão em programas e ambientes do quotidiano, potenciando assim o bem-estar e a resiliência da população.
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