Vitor Ramos defende renascimento dos centros de saúde e aposta na saúde local como alavanca para o futuro do SNS

13 de Maio 2025

No Health Re:Design Summit, Vitor Ramos, Presidente do Conselho Nacional de Saúde, salientou hoje a necessidade de consensos e compromissos para revitalizar o sistema, defendendo o papel central da saúde local.

O auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa foi palco, esta terça-feira, de uma intervenção marcante de Vitor Ramos, Presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), durante o Health Re:Design Summit. Perante uma plateia composta por profissionais de saúde, decisores políticos, académicos e estudantes, Vitor Ramos traçou um diagnóstico rigoroso do sistema de saúde português, destacando os avanços e bloqueios das políticas públicas, e apontou caminhos para o futuro, com especial ênfase no papel da saúde local e no renascimento dos centros de saúde enquanto alavancas essenciais para a transformação do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Logo no início da sua intervenção, Vitor Ramos reconheceu o trabalho desenvolvido pelo CNS em resposta ao desafio lançado pela Ministra da Saúde no final de 2024: construir um consenso nacional em torno de um pacto de médio e longo prazo para a saúde. “Temos vindo a analisar mais de trinta grandes documentos de consenso e reflexão das últimas duas décadas, desde o histórico ‘Saúde: um compromisso, uma estratégia para o virar do século’, de 1999, até projetos mais recentes, como o da Fundação Calouste Gulbenkian, que reuniu reputados especialistas nacionais e internacionais”, referiu.

Apesar da existência de múltiplos estudos e recomendações, Vitor Ramos identificou a fragmentação como um dos principais bloqueios à concretização das políticas públicas. “Há universos separados: o dos investigadores e produtores de conhecimento, o dos decisores com as suas próprias lógicas, e o dos profissionais que sustentam o sistema no terreno. Falta comunicação, compromisso e, sobretudo, conectividade entre estes mundos”, afirmou, sublinhando que “não basta produzir boas ideias; é preciso pô-las em prática e garantir que os diferentes atores do sistema dialogam e colaboram”.

O Presidente do CNS destacou ainda a necessidade de liderança conectiva, inspirando-se nos avanços do mundo digital, e lançou um repto às universidades e investigadores: “A universidade tem uma responsabilidade acrescida em promover esta conectividade, em articular saberes e práticas, e em ajudar a criar pontes entre os vários setores do sistema de saúde”.

Outro ponto central do discurso de Vitor Ramos foi a defesa da estabilidade das políticas de saúde e da responsabilidade coletiva. “A estabilidade é fundamental para que as políticas produzam efeitos. Todos temos de ser responsáveis e exigir responsabilidade, porque acredito que todos agimos com as melhores intenções, mas é preciso alinhar intenções com resultados concretos”, frisou.

A intervenção de Vitor Ramos ganhou especial ênfase ao abordar o conceito de saúde local. Inspirando-se na máxima “dê-me um ponto de apoio e levantarei o mundo”, o Presidente do CNS defendeu que “a saúde local pode ser esse ponto de alavancagem para transformar o sistema”. Recordou que a importância dos sistemas locais de saúde já constava nos documentos fundadores do SNS e que a última Lei de Bases da Saúde voltou a reforçar esta dimensão, mas lamentou a fragilização da saúde pública a nível local, exemplificando com a situação do Alentejo, onde atualmente existe apenas uma equipa de saúde pública para todo o distrito, quando outrora existiam catorze.

Para Vitor Ramos, o renascimento dos centros de saúde é crucial para devolver proximidade, articulação e capacidade de resposta ao SNS. “Portugal foi pioneiro na criação dos centros de saúde, lado a lado com a Finlândia, em 1971. No entanto, a evolução para agrupamentos de centros de saúde acabou por diluir o conceito original, confundindo-se hoje frequentemente as unidades de saúde familiar com os próprios centros de saúde”, explicou. “Está na altura de renascer o centro de saúde, não como solução única, mas como ponto de alavancagem para a inovação e para a ligação à comunidade”, propôs.

Ao longo da sua intervenção, Vitor Ramos insistiu na necessidade de valorizar as boas práticas que já existem a nível local e de criar mecanismos para a sua disseminação e replicação em todo o país. “O Conselho Nacional de Saúde está a tentar criar um repositório de boas práticas, porque sabemos que há experiências inovadoras e eficazes em várias regiões, que podem e devem ser partilhadas”, disse.

O Presidente do CNS concluiu com um apelo à ação e ao pragmatismo: “Não estamos no zero. Há trabalho feito, há conhecimento acumulado, há experiências a valorizar. O desafio é articular, comprometer, comunicar e conectar. Só assim conseguiremos revitalizar o SNS e garantir a saúde como direito de todos”.

A intervenção de Vitor Ramos no Health Re:Design Summit foi recebida com reconhecimento pelos participantes, que destacaram a lucidez do diagnóstico e a pertinência das propostas apresentadas. Num momento em que o sistema de saúde enfrenta desafios complexos, a aposta na saúde local, no renascimento dos centros de saúde e na conectividade entre todos os atores do sistema surge como uma estratégia mobilizadora para o futuro do SNS.

MMM

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rosário Trindade apela a colaboração estruturada no Health Re:Design Summit

Rosário Trindade, Diretora de Assuntos Corporativos e Acesso ao Mercado da AstraZeneca, defendeu hoje no Health Re:Design Summit, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, a necessidade de uma colaboração mais estruturada e responsável entre setor público e privado para garantir o acesso equitativo à saúde em Portugal.

Fragmentação institucional ameaça eficiência do SNS, alerta Pedro Pita Barros

Na sua intervenção no Health Re:Design Summit, realizado hoje na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Pedro Pita Barros, Professor Catedrático da NOVA SBE, alertou para os riscos da fragmentação institucional no sistema de saúde português e defendeu a necessidade de clarificar responsabilidades para garantir melhores resultados em saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights