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Sara Ferreira, Enfermeira

Alimentação e Acne: o que ainda é preciso desmistificar?

06/04/2025

Durante muitos anos, a ideia de que a alimentação tinha influência direta sobre o aparecimento ou agravamento da acne foi vista como um mito ou exagero. No entanto, a ciência tem vindo a demonstrar exatamente o contrário: o que comemos pode, sim, refletir-se na saúde da nossa pele. E se há um tema que desperta dúvidas frequentes em consulta, é este: “Que alimentos devo evitar para não piorar a acne?”

A resposta não é absoluta, mas existem evidências claras de que uma alimentação desequilibrada – rica em açúcares refinados, laticínios em excesso ou álcool – pode agravar quadros de acne inflamatória. Da mesma forma, sabemos que um estilo de vida saudável, aliado a uma alimentação rica em nutrientes com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, é um aliado importante no controlo desta dermatose.

O papel dos laticínios: uma questão de moderação

Os produtos lácteos continuam no centro do debate. Várias hipóteses apontam para a influência das hormonas presentes no leite, bem como para a estimulação da insulina e do IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina), que parecem agravar o quadro acneico. Ainda assim, não é necessária uma eliminação total dos laticínios, mas sim a redução do seu consumo – sobretudo os que contêm leite de vaca – e a observação dos efeitos na pele. Substitutos vegetais como o leite de amêndoa, aveia ou arroz podem ser boas opções.

Açúcares refinados: os verdadeiros vilões

Se há algo que a ciência já confirmou com bastante solidez é a relação entre o consumo de açúcar e o agravamento da acne. Produtos como pão branco, bolos, bolachas ou refrigerantes elevam rapidamente os níveis de glicose e insulina que, por sua vez, estimula a produção de sebo – um dos principais fatores da acne. O caminho é simples: optar por cereais integrais, leguminosas, vegetais frescos e frutos secos.

Chocolate: ainda com má fama, mas nem sempre justificada

Apesar de muitas pessoas associarem o chocolate ao aparecimento de borbulhas, não existem provas científicas que apontem o cacau como causador direto de acne. O problema pode estar, mais uma vez, no açúcar e no leite presentes em muitos chocolates de leite. A boa notícia é que o chocolate negro, com alto teor de cacau e baixo teor de açúcar, é rico em antioxidantes – podendo, inclusive, ter efeitos benéficos para a pele.

Gorduras: há más e boas

Contrariamente ao senso comum, nenhum estudo mostra uma ligação direta entre a gordura e a acne. Não é a gordura em si que prejudica a pele, mas sim o tipo de gordura. As “gorduras boas”, como os ómega-3 e ómega-6 presentes em peixes gordos (salmão, sardinha, cavala), frutos secos e azeite, ajudam a reduzir a inflamação no organismo e, com isso, contribuem para melhorar o aspeto da pele.

Álcool: uma influência indireta, mas real

Embora faltem provas conclusivas, existem vários mecanismos que sugerem que o álcool pode agravar a acne: desde o aumento da testosterona em mulheres – com impacto na produção de sebo – até ao comprometimento da função hepática, o que pode dificultar a eliminação de toxinas. Tudo isto pode refletir-se na pele. Mais uma vez, a palavra-chave é moderação.

Antioxidantes: os verdadeiros amigos da pele

Vitaminas como A, C, D e E, bem como minerais como zinco e selénio, desempenham um papel fundamental na saúde cutânea. Encontramo-los em alimentos como óleo de fígado de bacalhau, frutas cítricas, legumes de folha verde escura, frutos secos, peixe e ovos. São micronutrientes com propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes e antioxidantes que atuam diretamente no equilíbrio da pele.

 Não há fórmulas milagrosas nem alimentos mágicos, mas há hábitos que fazem toda a diferença. Se sofre de acne, a recomendação é que avalie a sua alimentação com espírito crítico – e, se necessário, com o apoio de um nutricionista. O que colocamos no prato pode, de facto, traduzir-se numa pele mais limpa, saudável e equilibrada.

 

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