Legenda da imagem: Esta infografia ilustra quatro principais abordagens terapêuticas — transplante de microbiota fecal (TMF), terapia com fagos, intervenções dietéticas e probióticos/prebióticos — que visam restaurar a saúde intestinal através da modulação do microbioma e do viroma. Cada estratégia oferece métodos, benefícios e desafios únicos na gestão de distúrbios gastrointestinais como DII, CCR e ICD, destacando o crescente potencial da medicina de precisão informada pelo viroma.
O intestino humano alberga uma vasta comunidade de microrganismos, mas só recentemente a ciência começou a desvendar o papel dos vírus—o chamado viroma—neste ecossistema. Uma revisão abrangente publicada a 28 de maio de 2025 na revista Precision Clinical Medicine (DOI: 10.1093/pcmedi/pbaf010) explora como os vírus intestinais, especialmente os bacteriófagos, influenciam a ecologia microbiana, a resposta imunitária e o desenvolvimento de doenças gastrointestinais.
Os investigadores de três instituições internacionais analisaram dados mecanísticos e clínicos para traçar a evolução do viroma ao longo da vida, mostrando que a sua composição é moldada por fatores como idade, dieta, localização geográfica e função imunitária. Os bacteriófagos, que infetam e regulam bactérias, destacam-se como os principais arquitetos deste equilíbrio, promovendo alterações microbianas através de ciclos de infeção que podem destruir bactérias ou integrar-se nos seus genomas. Estes processos afetam o metabolismo bacteriano, a ativação imunitária e o risco de doença.
Em patologias como a doença inflamatória intestinal, observa-se um aumento de bacteriófagos pró-inflamatórios e uma diminuição dos protetores, intensificando a inflamação através de mecanismos como a ativação do recetor TLR9. No cancro colorretal, os bacteriófagos contribuem para a progressão tumoral ao estabilizar biofilmes e transferir genes associados ao cancro. Vírus eucarióticos, como o HPV e o EBV, têm sido também identificados em tecidos tumorais, sugerindo um papel mais direto na doença.
As estratégias terapêuticas que visam o viroma estão a ganhar destaque. O transplante de viroma fecal e intervenções dietéticas específicas mostram potencial para restaurar o equilíbrio intestinal e reduzir a gravidade das doenças. A modulação viral pode, por vezes, preceder as mudanças bacterianas, posicionando o viroma como motor e indicador da saúde intestinal.
A investigação destaca ainda o potencial da medicina de precisão baseada no viroma: a terapia com fagos permite eliminar bactérias nocivas sem afetar as benéficas, enquanto o transplante de viroma fecal pode ser mais direcionado do que os métodos convencionais. Estratégias alimentares e biomarcadores virais abrem portas ao diagnóstico precoce e à personalização do tratamento. Com o avanço da engenharia de fagos e do perfil viral, os clínicos poderão em breve dispor de novas ferramentas para reequilibrar o ecossistema intestinal e intervir precocemente em processos inflamatórios e oncológicos.
Referência: Paper title: The gut virome in association with the bacteriome in gastrointestinal diseases and beyond: roles, mechanisms, and clinical applications
NR/HN/AlphaGalileo
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