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Fármaco para Alzheimer mostra potencial em travar metástases cerebrais do cancro do pulmão

6 de Julho 2025

Investigadores de universidades canadianas e norte-americanas descobriram que a proteína BACE1, associada ao Alzheimer, facilita a propagação do cancro do pulmão ao cérebro, abrindo caminho à reutilização de fármacos já existentes.

Investigadores da McMaster University, Cleveland Clinic e Case Comprehensive Cancer Center revelaram que a proteína BACE1, conhecida pelo seu papel na doença de Alzheimer, é determinante na formação de metástases cerebrais em doentes com cancro do pulmão. O estudo, publicado a 2 de julho de 2025 na revista Science Translational Medicine, demonstra que até 40% dos pacientes com cancro do pulmão de não pequenas células desenvolvem tumores secundários no cérebro, uma das complicações mais graves e de difícil tratamento.

A equipa, liderada por Sheila Singh, diretora do Centre for Discovery in Cancer Research da McMaster University e professora do Departamento de Cirurgia, utilizou uma inovadora técnica de ativação genética — o ecrã de ativação CRISPR in vivo de todo o genoma — para identificar genes que promovem a invasão cerebral por células tumorais. Ao ativar o gene BACE1 em células de cancro do pulmão e introduzi-las em ratinhos, observaram que estas células tinham uma propensão muito superior para formar tumores no cérebro.

BACE1 é uma enzima já bem estudada no contexto do Alzheimer, onde contribui para a formação de placas amiloides no cérebro. No entanto, esta é a primeira vez que se demonstra o seu papel central na disseminação do cancro do pulmão para o sistema nervoso central. “Sempre associámos a BACE1 à doença de Alzheimer, por isso encontrá-la como protagonista nas metástases cerebrais do cancro do pulmão é uma descoberta importante”, afirmou Sheila Singh. “É um lembrete de que o cancro pode sequestrar vias biológicas de formas que ainda não compreendemos totalmente.”

O estudo destaca ainda o potencial de reutilização de fármacos já desenvolvidos para o Alzheimer. O Verubecestat, um inibidor da BACE1, foi testado em modelos animais e demonstrou reduzir o número e o tamanho dos tumores cerebrais, além de prolongar a sobrevivência dos ratinhos. Embora o medicamento não tenha atingido os objetivos em ensaios clínicos para Alzheimer, os resultados agora obtidos sugerem que pode ser eficaz na prevenção ou controlo das metástases cerebrais do cancro do pulmão.

Shideng Bao, investigador do Departamento de Biologia do Cancro da Cleveland Clinic e coautor do estudo, sublinhou a importância da colaboração interdisciplinar: “Este estudo mostra como parcerias entre diferentes áreas podem conduzir a avanços no tratamento de doenças devastadoras como as metástases cerebrais. Ao identificar a BACE1 como peça-chave na propagação do cancro do pulmão ao cérebro, abrimos uma nova via terapêutica que pode melhorar o prognóstico dos doentes.”

A investigação contou com o apoio do Boris Family Fund for Brain Metastasis Research, Canadian Cancer Society, Canadian Institute of Health Research, Cancer Research UK Lung Cancer Centre of Excellence, Cleveland Clinic Foundation, Lerner Research Institute e Sir Henry Wellcome Fellowship.

A equipa reforça que são necessários mais estudos para avaliar a eficácia do Verubecestat e de outros inibidores da BACE1 em humanos, mas a descoberta representa um avanço significativo na luta contra as metástases cerebrais, uma das principais causas de mortalidade em doentes com cancro do pulmão.

Aceda ao documento original: https://www.lungcancercoalition.org/wp-content/uploads/2024/06/GLCC-Brain-Metastases-Factsheet-2024_Portugues.pdf
Mais informações: https://www.medicoexponencialems.com.br/artigo/uma-tela-de-ativacao-crispr-in-vivo-de-todo-o-genoma-identifica-a-bace1-como-uma-vulnerabilidade-terapeutica-da-metastase-cerebral-do-cancer-de-pulmao

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