FMUP Investiga Desgaste Emocional em Cuidadores de Animais de Rua

26 de Julho 2025

A FMUP recruta voluntários para o primeiro estudo nacional sobre fadiga de compaixão em cuidadores informais de animais de rua. Objetivo: alertar para o seu sofrimento invisível e pressionar decisores políticos

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a recrutar voluntários para um estudo inédito sobre fadiga de compaixão em cuidadores informais de animais de rua. A iniciativa, anunciada esta sexta-feira, visa mapear o impacto psicológico nestes indivíduos, frequentemente marginalizados e sujeitos a situações de sofrimento constante.

Cristina Costa Santos, professora e investigadora da FMUP, explicou à Lusa que o contacto inicial com estes cuidadores revelou realidades duras: “São pessoas muito maltratadas, vítimas da sua própria compaixão pelos animais. Quando veem os animais a sofrer, não conseguem ficar indiferentes”. A docente lamenta o estigma social associado a estes protetores, muitas vezes insultados por vizinhos ou multados pelas câmaras municipais: “São vistos como os tolinhos dos animais“.

A equipa multidisciplinar — que inclui especialistas em psicologia, veterinária e bioestatística — não encontrou na literatura científica qualquer estudo dedicado a este grupo. “Parecem invisíveis para a sociedade”, afirmou Costa Santos. Até agora, participam voluntários do Porto e Lisboa, mas os investigadores procuram uma amostra mais abrangente, incluindo o interior do país, para ultrapassar a meta de 100 inscrições.

Perfil Surpreendente
Contrariando estereótipos, o perfil emergente dos cuidadores difere da imagem preconcebida. “Tínhamos a ideia generalizada de que seriam senhoras idosas, com poucos recursos e escolaridade. Mas temos maioritariamente mulheres entre os 50 e 60 anos, integradas socialmente, com emprego e ensino superior”, revelou a investigadora. Ela admite, contudo, um possível viés: o estudo pode não estar a alcançar cuidadores em maior isolamento social.

Os relatos já recolhidos incluem casos graves, como vizinhos que envenenaram gatos, causando “sofrimento psicológico que não deve ser ignorado pela sociedade”. Os primeiros resultados são aguardados para outubro ou novembro, com divulgação prevista para a comunidade científica, público geral e decisores políticos. “Estes precisam de conhecer o problema. Talvez não invistam nele porque ainda não o perceberam”, sublinhou Costa Santos.

A equipa, composta também por Ivone Duarte, Rui Vidal, Paulo Vieira de Castro e Sara Lisboa, compromete-se a propor soluções após a análise dos dados. Interessados em participar podem manifestar disponibilidade através do formulário de inscrição, aprovado pela Comissão de Ética da FMUP.

NR/HN/Lusa

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