Células que protegem o cérebro respondem de forma distintas a lesões em diferentes idades

5 de Agosto 2025

As microglias são células do sistema nervoso central, que assumem um papel essencial na defesa imunológica do cérebro, combatendo infeções e patogénios. Perante o contributo vital destas células, uma equipa de investigação internacional, liderada pela investigadora da Universidade de Coimbra (UC) Vanessa Coelho-Santos, procurou perceber como é que se comportam ao longo da vida, desde o nascimento e durante o envelhecimento.

Os cientistas conseguiram desvendar que, com o avançar da idade, as microglias se alteram e comportam de forma diferente perante lesões no cérebro, acreditando que as conclusões desta investigação podem abrir caminho a abordagens terapêuticas ajustadas à idade e ao tipo de lesão cerebral.

“Neste estudo, em modelo animal, usámos um laser de alta precisão para causar danos localizados no tecido cerebral e, com a mesma potência, simular lesões vasculares que bloqueiam temporariamente o fluxo sanguíneo. Isso permitiu comparar as respostas microgliais a diferentes tipos de lesão ao longo da vida, concluindo-se que a idade tem um impacto marcante na morfologia e dinâmica das microglias em resposta a diferentes tipos de lesões cerebrais”, explica Vanessa Coelho-Santos. “Esta variabilidade ajuda a explicar vulnerabilidades distintas ao longo da vida, como mecanismos associados a doenças do neurodesenvolvimento, quando há resposta inflamatória nas fases iniciais de vida, assim como défices de resposta em idades avançadas”, acrescenta a investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC.

Embora as microglias sejam determinantes para o funcionamento do cérebro, ainda há diversos aspetos sobre o seu comportamento ao longo do tempo que permanecem desconhecidos. Foi neste contexto que Vanessa Coelho-Santos – em conjunto com uma equipa do Seattle Children’s Research Institute [Instituto de Investigação Infantil de Seattle] – estudou “a evolução morfológica e funcional destas células, desde o nascimento até à idade sénior”. A equipa de investigação procurou ainda “caracterizar a resposta das microglias a duas formas de lesões localizadas, em diferentes idades ao longo da vida, um aspeto que até agora permanecia pouco explorado”, partilha a neurocientista.

Assim, neste estudo – que está agora publicado na revista científica Cell Reports – é revelado que, na idade adulta, as microglias são bastante eficazes na resposta a lesões. Já no período neonatal – os primeiros 28 dias de vida –, embora sejam mais dinâmicas, apresentam uma reação tardia e exagerada à lesão. Já no envelhecimento, as microglias perdem complexidade e respondem a lesões de forma mais lenta. “Ao percebermos como é que as microglias se distribuem e atuam na defesa do cérebro em diferentes fases da vida, acreditamos que podemos, futuramente, criar terapêuticas mais personalizadas”, remata Vanessa Coelho-Santos.

Esta investigação foi desenvolvida com recurso a uma técnica de captação de imagem de ponta, chamada microscopia de dois fotões, que permite captar imagens de alta resolução do cérebro ao longo do tempo.

O artigo científico Physiological and injury-indued microglial dynamics across the lifespan está disponível em www.cell.com/cell-reports/fulltext/S2211-1247(25)00762-4.

NR/PR/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rafaela Rosário: “A literacia em saúde organizacional pode ser muito relevante para promover a saúde em crianças”

No II Encontro de Literacia em Saúde em Viana do Castelo, a investigadora Rafaela Rosário apresentou os resultados de um estudo pioneiro desenvolvido em escolas TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, instituições localizadas em contextos socioeconomicamente vulneráveis que recebem apoio específico do governo para combater o insucesso escolar e a exclusão social. A investigação demonstrou como uma abordagem organizacional, envolvendo professores, famílias e a própria comunidade escolar, conseguiu reverter indicadores de obesidade infantil e melhorar hábitos de saúde através de intervenções estruturadas nestes contextos desfavorecidos

RALS promove II Encontro de Literacia em Saúde

Viana do Castelo acolhe o II Encontro de Literacia em Saúde, organizado pela Rede Académica de Literacia em Saúde. O evento reúne especialistas e profissionais para debater estratégias de capacitação da população na gestão da sua saúde. A sessão de abertura contou com a presença de representantes da academia, do poder local e de instituições de saúde, realçando a importância do trabalho colaborativo nesta área

Projeto do Centro Académico e Clínico de Coimbra vence Prémio Healthcare Excellence 2025 da APAH

O projeto “Implementação de uma Unidade de Ensaios Clínicos Académicos na ULS de Coimbra: Modelo de Apoio Integrado para Investigação Translacional com Impacto Real na Saúde da População” foi o vencedor da 12.ª edição do Prémio Healthcare Excellence 2025, atribuído pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) em parceria com a AbbVie. 

A formação da opinião está a ser comandada por algoritmos

O advogado Adolfo Mesquita Nunes afirma, em entrevista à Lusa, que o processo de formação de opinião já não está a ser mediado por jornais, televisão ou amigos, mas por algoritmos, ou seja, tornou-se mais passivo.

ULS da Cova da Beira celebra 15 anos com mais de 220 nascimentos através de Procriação Medicamente Assistida

O Serviço de Medicina Reprodutiva da Unidade Local de Saúde (ULS) da Cova da Beira assinala este domingo 15 anos de atividade, tendo realizado tratamentos que resultaram no nascimento de mais de 220 bebés. Esta é a única estrutura do setor público localizada no interior de Portugal com capacidade para oferecer uma resposta integrada e completa em todas as valências da Procriação Medicamente Assistida (PMA).

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights