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A região do Algarve prepara-se para uma greve geral no setor da saúde que se realiza esta quinta-feira, 7 de agosto, coincidindo com o pico da época turística e multiplicando o impacto junto de residentes e visitantes. A paralisação de 24 horas, convocada pelo Sindicato dos Médicos da Zona Sul, Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas do Sul e Regiões Autónomas, visa protestar contra a falta crónica de profissionais e a degradação das condições laborais nas estruturas do Serviço Nacional de Saúde algarvio.
António Miguel Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e da Câmara Municipal de Olhão, considerou a greve “duplamente preocupante” pelo contexto em que ocorre, sublinhando que, além das necessidades dos residentes, a população algarvia multiplica-se durante o verão, agravando a pressão sobre hospitais e centros de saúde. Pina reconheceu a razão dos profissionais, frisando “a grande falta de investimento” nos hospitais da região e a ausência de respostas concretas do Governo quanto ao novo hospital central do Algarve, cuja construção continua por decidir mais de um ano depois de ter sido prometida.
Os sindicatos denunciam falta de médicos, enfermeiros e auxiliares, destacando que o trabalho extraordinário se tornou regra, com muitos profissionais a ultrapassar regularmente as 150 horas diárias para garantir a segurança dos utentes. André Gomes, dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, alertou para a necessidade urgente de abrir vagas carenciadas e de criar mecanismos de fixação de pessoal, algo que o Governo, segundo acusa, não tem feito no Algarve. Alda Pereira, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, estima um défice de cerca de 1.500 enfermeiros na região, apontando para o “caos” nos serviços e para o esgotamento generalizado das equipas, que resulta em pedidos públicos de escusa de responsabilidade por parte de dezenas de profissionais.
Para além dos salários, a falta de uma política de habitação agrava a dificuldade em atrair e reter profissionais de saúde, tendo António Miguel Pina sugerido a retoma das “casas de função” para fixar quadros na região onde o custo da vida está entre os mais elevados do país. O presidente da AMAL apontou também a fragilidade das infraestruturas: muitos centros de saúde ainda carecem de ar condicionado e outras condições básicas, apesar dos esforços financeiros já feitos pelos municípios.
Em resposta, Tiago Botelho, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Algarve, manifestou “profunda incompreensão” face aos argumentos dos sindicatos, considerando que os motivos têm um cunho político e afastando a ideia de inexistência de diálogo. Sublinha que foi alcançado um aumento significativo da massa salarial dos enfermeiros em 2025, comparativamente ao período homólogo do ano anterior, e que o Governo está empenhado em prosseguir negociações e implementar as soluções possíveis.
O Orçamento do Estado para 2025 inscreve o novo Hospital Central do Algarve e um Centro Oncológico, anunciando duplicação do investimento previsto em infraestruturas regionais de saúde, mas sem detalhar prazos ou orçamentos específicos para as obras prometidas. A demora e a falta de definição quanto à execução destes projetos continuam a alimentar as críticas das autarquias e de toda a comunidade profissional e política local.
Com a paralisação prevista para abranger todos os hospitais e centros de saúde da região, mantém-se no ar a apreensão pelo impacto direto nos serviços essenciais, pela capacidade de resposta numa das fases mais críticas do ano e pela imagem de insegurança transmitida aos milhares de turistas que procuram o Algarve durante o verão.
NR/HN/Lusa



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