![]()
A Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC) manifestou o seu firme desacordo com a recente decisão que restringe a prescrição de terapêuticas injetáveis e sensores para diabetes a apenas quatro especialidades médicas: Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar, Endocrinologia e Pediatria. Segundo a SPAVC, esta medida compromete a necessária abordagem multidisciplinar e integrada essencial para o tratamento eficaz dos doentes com acidente vascular cerebral (AVC) e para o controlo dos seus fatores de risco.
O AVC é a principal causa de morte em Portugal e uma das principais causas de incapacidade, estando a diabetes presente em 30 a 50% dos doentes admitidos diariamente por AVC em todos os hospitais do país, correspondendo a cerca de 70 novos casos por dia. A dificuldade em controlar eficazmente a diabetes e outros fatores de risco vascular é um desafio diário nas Unidades de AVC e consultas de doenças cerebrovasculares.
A SPAVC destaca que os análogos do GLP-1, medicamentos incluídos nesta categoria, ajudam não só no controlo da diabetes, mas também no controlo da dislipidemia e da hipertensão arterial, e têm demonstrado reduzir o risco de AVC e a sua recorrência, efeitos observados já nos primeiros três meses após o evento vascular. Por isso, a sociedade defende que a resposta não deve passar por restringir a prescrição destes fármacos, mas sim por promover orientações informadas que permitam a uma prescrição correta e atempada.
Embora reconheça positivamente que as especialidades de Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar e Endocrinologia continuem autorizadas a prescrever estes fármacos e dispositivos — sendo estas especialidades muito importantes no seguimento dos doentes com AVC — a SPAVC considera inaceitável a exclusão de outras especialidades que desempenham um papel fundamental na prevenção e tratamento do AVC, bem como no controlo dos fatores de risco. Entre estas, destaca a Neurologia, diretamente responsável pelo diagnóstico, tratamento e seguimento dos doentes com AVC, que não pode ser afastada da capacidade de prescrição. Outras especialidades, como Cardiologia, Nefrologia e Cirurgia Vascular, que têm um papel essencial no controlo dos fatores de risco vasculares, também devem ser incluídas, dada a relevância da diabetes na doença aterosclerótica e no risco de eventos cerebrovasculares.
A SPAVC apela assim a uma revisão urgente da decisão, propondo que a possibilidade de prescrição seja alargada a todas as especialidades diretamente envolvidas no tratamento do AVC e no controlo dos fatores de risco vasculares, de forma a garantir cuidados mais completos e centrados no doente. A sociedade reforça ainda a necessidade de focar esforços em indicadores nacionais que demonstrem o controlo efetivo da diabetes na comunidade, como a taxa de indivíduos com diabetes e HbA1c inferior a 6,5%, pois só através deste desempenho será possível reduzir o número de novos eventos vasculares e a elevada taxa de demência vascular na população portuguesa
NR/PR/HN



0 Comments