Unilabs bloqueia ecografias pelo SNS em seis distritos mas aceita privado

15 de Agosto 2025

Seis distritos portugueses não têm vagas para ecografias mamárias e da tiróide da Unilabs via SNS, mas aceitam seguros/particulares. Empresa culpa preços congelados há 15 anos. ERS já multou discriminação semelhante

A Unilabs não disponibiliza agenda para ecografias mamárias e da tiróide através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em seis dos 14 distritos onde opera, mas oferece marcações rápidas para clientes particulares ou segurados. Uma pesquisa da Lusa na plataforma da empresa na quinta-feira confirmou a ausência de vagas nos distritos de Braga, Faro, Lisboa, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu para utentes do SNS.

Em resposta à Lusa, a Unilabs admitiu “dificuldade no acesso” em certas regiões, atribuindo o problema à escassez de especialistas dispostos a trabalhar com preços convencionados “não atualizados há mais de 15 anos”. A empresa garantiu cumprir “de forma escrupulosa” os contratos com o Estado, embora reconheça que “em alguns exames e regiões o acesso não é tão rápido quanto gostariam”.

A disparidade é evidente: enquanto utentes do SNS enfrentam bloqueios, particulares ou segurados marcam os mesmos exames em 5 a 26 dias na maioria destes distritos. Faro surge como exceção absoluta (sem vagas mesmo no privado), seguido por Viseu (sem ecografia mamária privada). No Porto, ecografias mamárias pelo SNS estão indisponíveis, mas particulares agendam em sete dias. Para ecografia da tiróide via SNS na região, a única vaga fica em Marco de Canaveses (50 km do Porto), com espera de 20 dias.

Coimbra, Guarda e Santarém nem sequer listam estes exames como opções disponíveis. Em Bragança e Leiria, a plataforma bloqueia a seleção de qualquer exame via SNS. Apenas Aveiro e Vila Real oferecem ambos os exames pelo SNS, mas em Aveiro a espera pública (22 dias) triplica a do seguro (8 dias).

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) confirmou à Lusa “múltiplas situações de discriminação” de utentes do SNS em prestadores convencionados nos últimos anos. A entidade emitiu ordens, abriu processos e aplicou coimas entre €1.000 e €44.891,81 por considerar que regras diferenciadas de agendamento configuram discriminação ilegal, violando a Lei de Bases da Saúde. Entre 2021 e julho de 2025, recebeu 158 queixas do género, com pico de 50 reclamações em 2024.

No Portal da Queixa e página oficial da DECO, multiplicam-se denúncias de cancelamentos, remarcações sucessivas e atendimento prioritário a segurados. A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), responsável pelas convenções, não se pronunciou sobre o caso.

NR/HN/Lusa

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