Vigilância de águas residuais funciona sem infraestruturas de esgoto, revela estudo

16 de Agosto 2025

Investigadores da Tufts University demonstraram que águas residuais em canais abertos da Costa do Marfim permitem detetar vírus como SARS-CoV-2 e influenza A. Técnica pode prevenir surtos em regiões sem saneamento moderno

Um estudo pioneiro da Tufts University, publicado a 14 de agosto de 2025 na PLOS Water, comprovou que a vigilância de águas residuais é viável em regiões carentes de sistemas de esgoto modernos. A investigação, liderada por Daniele Lantagne do Friedman School of Nutrition Science and Policy, analisou durante 12 semanas amostras de canais de drenagem urbana e mercados avícolas na Costa do Marfim, África Ocidental.

A equipa, que incluiu cientistas das escolas de Medicina e Medicina Veterinária da Tufts, detetou material genético do SARS-CoV-2 em 47% das amostras de águas residuais humanas coletadas em bairros densamente povoados de Abidjan. Em águas utilizadas na limpeza de aves em mercados locais, identificaram ainda vestígios de influenza A, vírus associado à gripe aviária.

Lantagne, autora sénior do estudo, enfatizou o impacto global da descoberta: “Doenças infecciosas não respeitam fronteiras. Detetar ameaças como o Ébola no seu ponto de origem é a melhor defesa contra pandemias”. A investigadora lamentou que cortes orçamentais da USAID tenham interrompido testes adicionais para detetar o vírus Lassa em águas residuais de um hospital rural, sublinhando a necessidade urgente de financiamento contínuo.

A metodologia, adaptada a contextos de recursos limitados, envolveu a formação de equipas locais para coletar e analisar amostras sem infraestruturas480 complexas. Esta abordagem já permitiu a países como os EUA monitorizar COVID-19, gripe e RSV, mas a sua aplicação em zonas sem saneamento básico — onde vivem 3,5 mil milhões de pessoas — era considerada inviável até agora.

O estudo reforça que a técnica pode identificar surtos silenciosos, como febre de Lassa, frequentemente mal diagnosticada como malária. Segundo os autores, esta vigilância acessível poderá integrar estratégias de saúde pública em regiões vulneráveis, antecipando ameaças antes da sua disseminação global.

Link para o estudo completo:
https://now.tufts.edu/2025/08/13/can-wastewater-surveillance-work-without-sewers

NR/HN/ALphaGalileo01

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