![]()
Legenda da imagem: Professor Kjetil Retterstøl do Instituto de Ciências Médicas Básicas da Universidade de Oslo. (Foto: Cecilie B. Høstmark, Universidade de Oslo)
Uma nova investigação da Universidade de Oslo revela que os indivíduos que consumiam leite gordo (com 3,5% de gordura) nas décadas de 1970 e início de 1980 registaram um risco mais elevado de mortalidade. Contudo, uma mudança significativa ocorreu a partir de meados da década de 1980, com a introdução do leite meio-gordo no mercado norueguês.
Até 1984, os noruegueses só tinham acesso a leite gordo ou leite magro. A chegada do leite meio-gordo, com um teor de gordura de apenas 1,5%, popularizou-se rapidamente. Investigadores do Departamento de Nutrição do Instituto de Ciências Médicas Básicas da universidade analisaram dados de quase 74.000 participantes de três inquéritos realizados nas décadas de 70 e 80 e cruzaram-nos com o Registo de Causas de Morte da Noruega 40 anos depois.
“No primeiro inquérito, só estavam disponíveis leite gordo e leite magro, e o consumo de leite era elevado. Enquanto dois terços dos participantes consumiam leite gordo no inquérito inicial de 1974-1976, apenas um terço o fazia no último período de inquérito, de 1985-1988, após a introdução do leite meio-gordo”, explicou o investigador Erik K. Arnesen, primeiro autor do estudo, publicado no The American Journal of Clinical Nutrition.
O estudo concluiu que quem bebia quantidades significativas de leite gordo tinha um risco mais elevado de morrer de doenças cardiovasculares e de todas as causas combinadas. “Entre os diferentes tipos de leite, este risco aumentado estava associado apenas ao leite gordo, e não ao meio-gordo ou magro. Em comparação com quem consumia principalmente leite gordo, os participantes que bebiam leite meio-gordo ou magro tinham uma taxa de mortalidade cerca de 10% mais baixa”, notou Arnesen.
A equipa examinou especificamente a mortalidade por doenças cardiovasculares. “O grupo que consumia maioritariamente leite gordo – uma média de 5 dl por dia – apresentou uma taxa de mortalidade 13% mais elevada por doenças cardíacas, com a associação a ser mais forte entre as mulheres. Em contraste, os indivíduos que bebiam leite meio-gordo ou magro tinham um risco 10 a 12% menor de morrer dessas doenças”, explicou. Arnesen salientou que o estudo avaliou apenas a ingestão de leite como bebida, não o utilizado em confeção.
Os investigadores acreditam que a mudança de leite gordo para leite meio-gordo teve um impacto benéfico na saúde pública, uma evolução que ainda não tinha sido diretamente investigada. O trabalho teve em conta outros fatores como hábitos de tabagismo, atividade física, educação e consumo de outros alimentos. Uma limitação assenta no autorrelato do consumo de leite pelos participantes, que está muitas vezes sujeito a imprecisões.
“O leite gordo era uma fonte significativa não apenas de gorduras saturadas, mas também de ácidos gordos trans. Acreditamos que o teor de gordura do leite é o principal responsável pelas diferenças nas taxas de mortalidade. Os perfis nutricionais dos diferentes tipos de leite são, de resto, bastante semelhantes”, disse Arnesen.
O professor Kjetil Retterstøl, último autor do estudo, comentou o crescente interesse atual em variedades de leite com mais gordura. “Estamos a assistir a um interesse crescente no leite com maior teor de gordura, possivelmente porque é percecionado como mais natural e saudável do que as opções com baixo teor de gordura. No entanto, as nossas descobertas indicam que essa perceção é enganadora”, referiu.
Retterstøl enfatizou que, para quem consome muito leite, o tipo de leite escolhido pode afetar significativamente a saúde. A equipa recomenda vivamente que se continue a beber leite, mas optando por variedades com baixo teor de gordura, como o meio-gordo ou magro. “As diretrizes nutricionais sugerem o consumo de três porções de leite ou lacticínios por dia, equivalendo a cerca de 5 dl de leite. Independentemente do teor de gordura, o leite é uma fonte valiosa de cálcio, iodo e vitaminas B”, concluiu Retterstøl.
O estudo está disponível na íntegra aqui: The American Journal of Clinical Nutrition
NR/HN/AlphaGalileo



0 Comments