Israel pede a médicos em Gaza que abandonem a cidade antes de ofensiva no norte

21 de Agosto 2025

O exército israelita iniciou contactos com médicos e organizações humanitárias no norte da Faixa de Gaza para prepararem a transferência para sul, antecipando a tomada da cidade de Gaza. Netanyahu ordenou acelerar a ofensiva; a UNRWA alerta que muitos civis, enfraquecidos por fome e dois anos de conflito, podem não conseguir deslocar‑se

O exército israelita começou a contactar médicos e trabalhadores de organizações humanitárias no norte da Faixa de Gaza para que se desloquem para o sul, no quadro dos preparativos para uma operação de tomada da cidade de Gaza, anunciaram hoje as Forças de Defesa de Israel (FDI).

Segundo os militares, os primeiros avisos foram emitidos na terça‑feira pela Coordenação das Atividades do Governo nos Territórios (COGAT), a autoridade militar israelita responsável pelos territórios palestinianos. “Como parte dos preparativos para a transferência da população da cidade de Gaza para o sul, (…) a direção de coordenação e ligação da COGAT emitiu os primeiros alertas aos médicos e organizações internacionais”, indicou o exército.

No contacto, foi solicitado a cada organização que preparasse “um plano para transferir a equipa médica do norte para o sul, de modo a poder atender todos os pacientes no sul da Faixa”. As FDI adiantaram que os hospitais no sul de Gaza estão a ser adaptados para “receber doentes e feridos, juntamente com um aumento na entrada de equipamento médico necessário, de acordo com os pedidos das organizações internacionais”.

O comando israelita divulgou uma gravação de uma chamada telefónica na qual um membro do COGAT, com a voz distorcida, alerta um funcionário do setor da saúde “sobre a possibilidade de o exército entrar na cidade de Gaza” e sobre a necessidade de proceder a uma “evacuação prévia” da cidade. Na mesma gravação, o elemento do COGAT afirma que a deslocação permitirá “prestar assistência a todos os pacientes no sul da Faixa e preparar os hospitais para receber os pacientes que vêm do norte” e acrescenta que se procurará assegurar “um lugar para ficar, seja um hospital de campanha ou qualquer outro hospital”. Até ao momento, não foi possível obter confirmação de profissionais de saúde em Gaza que tenham recebido estas chamadas.

A orientação às equipas médicas surge após o primeiro‑ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter ordenado na quarta‑feira aos militares que encurtassem os prazos “para tomar o controlo dos últimos bastiões terroristas e garantir a derrota do Hamas”. Horas depois, o exército afirmou controlar já as entradas da capital do enclave palestiniano.

De acordo com a agência France‑Presse, cinco divisões do exército devem participar na ofensiva, para a qual foram mobilizados mais 60.000 reservistas. O plano contempla a deslocação de civis da cidade de Gaza para o sul do território.

O comissário‑geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, advertiu hoje que “muitos nem sequer terão forças para se deslocar”. Segundo a UNRWA, após cerca de dois anos de hostilidades, a população palestiniana encontra‑se enfraquecida e enfrenta fome generalizada, com um agravamento acentuado da desnutrição infantil desde março. “Isto significa que, se nenhuma medida for tomada, certamente [essas crianças] estão condenadas à morte”, declarou Lazzarini numa intervenção no Clube de Imprensa Suíço, em Genebra.

O conflito atual teve início após o ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas no sul de Israel, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns. A campanha militar israelita subsequente provocou mais de 62.100 mortos na Faixa de Gaza, segundo dados das autoridades do Hamas, que controla o território desde 2007. O Hamas é classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

NR/HN/Lusa

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