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A Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou esta quinta‑feira Israel de privar deliberadamente a população da Faixa de Gaza de água, no contexto do conflito que decorre desde outubro de 2023, e apelou a Telavive para que autorize de imediato a importação em larga escala de equipamento destinado ao fornecimento e distribuição de água. Em comunicado, a organização exigiu que o exército israelita cesse a destruição de infraestruturas hídricas e permita a reparação urgente dos sistemas danificados, sublinhando que a água e outros bens essenciais não devem ser usados como arma de guerra.
Segundo a MSF, após 22 meses de destruição e restrições no acesso às infraestruturas essenciais, a quantidade de água disponível em Gaza é “totalmente insuficiente”. A organização afirma tentar, há meses, introduzir novas unidades de tratamento de água, denunciando que Israel bloqueia a entrada de artigos essenciais para esse fim. As sete unidades atualmente operadas pela MSF no enclave produzem água suficiente para que cerca de 65.000 pessoas recebam 7,5 litros por dia, uma fração do necessário para cobrir as necessidades básicas.
A MSF sustenta que Israel sempre controlou grande parte do fluxo de água que entra em Gaza e que essa dependência se agravou com a guerra. Duas das três condutas principais que abastecem o território foram repetidamente danificadas desde outubro de 2023. Estima‑se que cerca de 70% da água que entra por essas condutas se perca devido a fugas na rede alargada, deteriorada pelos bombardeamentos. A população depende de água fornecida por condutas a partir de Israel e de instalações de dessalinização em Gaza, ambas sob ataques contínuos, o que compromete a estabilidade do abastecimento.
As consequências sanitárias são descritas como graves. Equipas médicas da MSF registaram, no último mês, mais de mil consultas semanais por diarreia aquosa aguda, associada à escassez de água potável e a más condições de higiene. Multiplicam‑se também casos de doenças de pele, incluindo sarna, num contexto de sobrelotação e saneamento deficitário.
A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) classifica a situação de saúde pública em Gaza como “catastrófica”. Em atualização recente, a agência relata uma média semanal de 10.300 casos de doenças infecciosas, atribuídos ao acesso limitado a água segura, à sobrelotação e a condições sanitárias precárias. A onda de calor dos últimos dias, com temperaturas acima dos 40 ºC, está a agravar a desidratação numa população com fornecimento de água extremamente reduzido.
No balanço humano da guerra, desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em território israelita, registam‑se cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 pessoas feitas reféns. Em Gaza, as autoridades locais, cujos números a ONU considera credíveis, contabilizam 62.122 mortos, maioritariamente civis, e 156.758 feridos. Mantêm‑se milhares de desaparecidos presumivelmente soterrados sob escombros, além de registos de mortes por doenças, infeções e fome.
A continuidade do bloqueio à ajuda humanitária, a que se somou a proibição de entrada no território de agências da ONU e de organizações não‑governamentais, tem alimentado o agravamento da crise. O Ministério da Saúde de Gaza, sob administração do Hamas, estima que pelo menos 269 pessoas tenham morrido de fome desde o início da ofensiva, incluindo 112 menores. A MSF reitera o apelo para a remoção de entraves à importação de equipamentos de tratamento e distribuição de água e para a reparação imediata das infraestruturas, como condição mínima para travar a escalada de doenças e evitar novas mortes evitáveis.



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