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A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) manifestou preocupação com o aumento de vagas nos cursos de Medicina, considerando que a expansão tem ultrapassado as recomendações técnicas e está a comprometer a qualidade do ensino, sobretudo na vertente clínica.
Em declarações, o presidente da ANEM, Paulo Simões Peres, recordou a proposta do grupo de trabalho para a formação médica criado pelo anterior Governo, que estimava aumentos anuais da ordem de 1% a 2% ao longo de uma década. Sublinhou que, nos últimos seis anos, os incrementos excederam largamente essa faixa, defendendo que o planeamento das necessidades deve ser feito com horizontes de 6 a 13 anos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
No concurso nacional de acesso, 1.647 estudantes ficaram colocados em Medicina, num contexto em que o curso volta a apresentar médias de entrada entre as mais elevadas. Segundo o dirigente, a realidade nas escolas médicas traduz um crescimento quase anual do número de vagas, com impacto direto na capacidade formativa fora da sala de aula, que depende do contacto com doentes e equipas de saúde em hospitais, unidades de saúde familiar e centros de saúde.
A ANEM aponta a escassez de tutores como um dos estrangulamentos centrais. Paulo Simões Peres assinala que, em alguns cenários, um tutor acompanha mais de 15 estudantes, situação que considera incomportável para a qualidade do ensino clínico nos anos finais do curso. Acrescenta que o aumento de vagas não resolve, por si só, os problemas do SNS e classifica a medida como um “penso rápido”, defendendo antes um planeamento articulado e sustentado dos profissionais de saúde a nível nacional, abrangendo o SNS e os setores privado e social.
O presidente da associação lembra que Portugal tem 5,6 médicos por mil habitantes, acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e sustenta que é necessário mapear contratos e vínculos nos diferentes subsistemas para calibrar a formação às reais necessidades.
Para além de uma redução e redistribuição de vagas, a ANEM reclama o reforço e especialização do corpo docente e condições específicas nas escolas médicas. Defende também o alargamento e a racionalização das afiliações hospitalares, de modo a dispersar os estudantes por várias unidades com capacidade de ensino clínico. Cita como exemplos o modelo da Universidade do Minho, com estágios em Braga, Guimarães e Viana do Castelo, e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que inclui afiliações em Vila Nova de Gaia.
A logística dos estágios é outro ponto crítico identificado pela associação, que pede soluções para alojamento e transportes, bem como preços das refeições compatíveis com a refeição social do ensino superior, lembrando que, nos hospitais, os custos tendem a ser superiores. Segundo a ANEM, sem intervenções nesta frente, a expansão numérica arrisca-se a degradar ainda mais a componente prática do curso e o acompanhamento junto dos doentes.
NR/HN/Lusa



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