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A comissária europeia espanhola Teresa Ribera (na imagem), vice-presidente executiva para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva, classificou esta quinta-feira, 4 de setembro de 2025, a situação na Faixa de Gaza como genocídio, tornando-se no primeiro membro do executivo comunitário a utilizar este termo. Num discurso na Sciences Po Paris, Ribera lamentou profundamente a inação dos 27 Estados-membros da União Europeia perante a crise.
“O genocídio em Gaza realça a incapacidade da Europa para agir e falar a uma só voz, mesmo com os protestos a alastrarem pelas cidades europeias”, declarou a comissária, conforme avançado pela agência Lusa. A sua intervenção destacou as profundas divisões que têm paralisado a UE desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, iniciada a 7 de outubro de 2023.
Os Estados-membros mantêm posições irreconciliáveis: países como a Alemanha insistem no direito de Israel à defesa própria, enquanto outros, como a Espanha, denunciam há meses o que consideram ser um genocídio contra os palestinianos. Esta falta de consenso impediu qualquer ação concertada, apesar de a Comissão Europeia ter decidido no final de junho que Israel violava uma cláusula de direitos humanos do Acordo de Associação UE-Israel. Uma proposta para suspender certos financiamentos a startups israelitas aguarda, há semanas, a aprovação unânime dos membros.
O governo israelita reagiu de forma veemente às declarações de Ribera. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Oren Marmorstein, emitiu um comunicado a considerar as palavras “totalmente inaceitáveis”. “Em vez de repetir como papagaio o libelo de sangue do ‘genocídio’ disseminado pelo Hamas, Ribera deveria ter exigido a libertação de todos os reféns e que o Hamas deponha as armas para que a guerra possa terminar”, afirmou. Marmorstein acusou ainda a comissária de se tornar “porta-voz da propaganda do Hamas” e de levantar “acusações infundadas” contra Israel, concluindo que “os líderes têm responsabilidade; usar tais palavras é imprudente”.
O conflito, que começou com o ataque do Hamas que matou 1200 pessoas e fez 251 reféns em Israel, provocou até agora pelo menos 64.231 mortos na Faixa de Gaza, na sua maioria civis, e 161.583 feridos, de acordo com números das autoridades locais considerados fiáveis pela ONU. Milhares mais estão desaparecidos ou morreram de doenças e fome, num território onde a ONU declarou oficialmente o estado de fome na cidade de Gaza e arredores a 22 de agosto. A organização já tinha alertado para uma crise humanitária catastrófica que afeta mais de 2,1 milhões de pessoas.
O bloqueio à ajuda humanitária, que se prolongou por mais de dois meses, e a subsequente proibição de entrada a agências da ONU e ONG, agravaram a situação. Apesar de alguma ajuda entrar agora, a sua distribuição é caótica e frequentemente interrompida pela violência. O exército israelita abriu fogo sobre civis à espera de alimentos, matando 2.356 e ferindo pelo menos 17.244 palestinianos. Uma comissão especial da ONU já tinha acusado Israel no final de 2024 de genocídio e de usar a fome como arma de guerra, uma classificação também apresentada por outros países e organizações de direitos humanos perante o Tribunal Internacional de Justiça.
A declaração de Teresa Ribera surge assim como a mais forte condenação por parte de uma figura sénior da UE, refletindo a enorme fractura que o conflito continua a gerar no seio da União e da comunidade internacional.
NR/HN/Lusa



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