![]()
O número de crianças e mulheres vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo (RDCongo) quadruplicou nos primeiros seis meses de 2025, num contexto de intensificação dos combates no leste do país. A organização não-governamental Save the Children revelou que apoiou 2.702 sobreviventes de violência sexual entre janeiro e julho deste ano, um aumento drástico face às 612 casos registados no mesmo período de 2024.
Greg Ramm, Diretor Nacional da Save the Children na RDCongo, afirmou que “o aumento de quatro vezes nos casos de violência sexual apoiados pela organização no leste da RDCongo este ano, em comparação com o ano passado, destaca uma crise humanitária profundamente alarmante, na qual mulheres e raparigas estão a pagar um preço alto”. Esta subida reflete uma tendência generalizada de agravamento da situação em todo o país, com o Ministério da Saúde congolês a reportar um aumento de 16% nos casos, que ascenderam a aproximadamente 73.400 na primeira metade do ano. Quase um terço destas vítimas eram meninas com menos de 16 anos.
O recrudescimento do conflito, marcado pelos avanços do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) – apoiado por Ruanda, segundo a ONU e vários países ocidentais –, levou à tomada de Goma, capital de Kivu do Norte, e de Bukavu, capital de Kivu do Sul, no final de janeiro. Esta escalada militar provocou um aumento da fome, deslocações forçadas, vítimas civis e casos de violência sexual.
A Save the Children presta apoio aos sobreviventes através de cuidados de saúde mental e psicossociais, encaminhamentos hospitalares e grupos de apoio. No entanto, a organização alerta para uma grave escassez de kits de profilaxia pós-exposição (PEP) para prevenir a infeção por VIH. “A comunidade humanitária enfrenta uma grave escassez de kits PEP para prevenir a infeção pelo HIV após uma potencial exposição”, sublinhou Greg Ramm, acrescentando que “é necessário financiamento urgente para levar esses suprimentos vitais às sobreviventes que mais precisam deles”.
Os colaboradores da organização em centros de saúde relatam que frequentemente atendem sobreviventes a sofrer de gravidez indesejada, complicações médicas, estigmatização e pensamentos suicidas. A escassez de recursos, agravada pelos cortes na ajuda internacional e pelas dificuldades de acesso, impede que muitas vítimas recebam atendimento médico urgente, expondo-as a infeções sexualmente transmissíveis e outras complicações graves.
Esta crise estende-se para além das fronteiras da RDCongo. Em junho, a Save the Children alertou que os cortes na ajuda humanitária reduziram drasticamente o apoio disponível para sobreviventes de violência sexual entre os refugiados que fugiram para o Burundi, onde os casos entre menores mais do que triplicaram.
O conflito no leste da RDCongo perdura desde 1998, alimentado por grupos rebeldes e pela presença militar, apesar da implantação da missão da ONU no país (Monusco).
NR/HN/Lusa


0 Comments