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A linha de apoio emocional SOS Voz Amiga iniciou às 00:00 de segunda-feira, 8 de setembro, uma maratona de atendimento telefónico ininterrupto de 48 horas. Esta iniciativa, que termina à meia-noite de quarta-feira, dia que marca o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, é um esforço extraordinário dos voluntários para assinalar a data e alertar para o problema.
Em balanço feito à agência Lusa nas primeiras horas da operação, o presidente da Associação SOS Voz Amiga, Francisco Paulino, revelou que, entre a meia-noite e as 08:00, a linha recebeu três chamadas. Um número que, nas suas palavras, “diz-nos que o sofrimento não tem hora”, sobretudo numa altura em que a iniciativa ainda não tinha tido ampla divulgação nos ‘media’.
Francisco Paulino explicou que esta jornada contínua serve para divulgar e informar a população sobre um tema que “é muito sensível”. “Os números são cada vez mais preocupantes e fazermos 48 horas de jornada contínua, algo que é um esforço exercido pelos voluntários, porque só conseguimos fazer nove horas diárias, faz-nos todo o sentido, pois informar, divulgar, nunca é demais para que as pessoas possam saber onde procurar ajuda em caso de necessidade”, afirmou.
Questionado sobre o sentido de a SOS Voz Amiga continuar a operar com a entrada em funcionamento, na quarta-feira, da nova Linha Nacional para a Prevenção do Suicídio e de Comportamentos Autolesivos (que será gratuita e funcionará 24 horas por dia), Paulino foi perentório: “podem coexistir perfeitamente”. “Esta nova linha é necessária e nós aplaudimos o seu surgimento porque vai atender uma série de pessoas durante o dia inteiro, porque o sofrimento não tem hora”, destacou. “Retira-nos o constrangimento de sabermos que não conseguimos atender todas as chamadas, porque estamos limitados ao nosso horário de nove horas diárias”, acrescentou.
O responsável sublinhou ainda a mais-valia do serviço da SOS Voz Amiga, que assenta no anonimato e na confidencialidade. “O nosso acolhimento é um pouco diferente. Nós não somos técnicos de saúde mental, a nossa linguagem é mais próxima das pessoas que nos ligam”, disse, ressalvando que não critica a linguagem dos psicólogos, sendo apenas “um acolhimento diferente”.
Sobre a procura da linha, Francisco Paulino referiu uma alteração profunda desde a pandemia de covid-19. “Antes da pandemia, atendíamos cerca de 600 chamadas por mês. Na pós-pandemia, começámos a atender entre 900 e 1.000 chamadas por mês, porque quem estava mal ficou pior e surgiram muitas outras situações de ansiedade e depressão”, indicou. Um dado novo e particularmente preocupante é o aumento de chamadas realizadas por menores de 20 anos, algo que “não era hábito” antes da pandemia. “Estamos a receber chamadas de jovens de 12 e 13 anos. Jovens que nos dizem que estão fartos da vida, o que é um valente murro no estômago”, lamentou.
Esta situação é agravada pelo facto de, apesar de a linha estar disponível, “o telefone não ser o meio preferido dos jovens para se manifestarem”. “Sabemos que eles andam mais nas redes sociais. Muitos perguntam se não temos um serviço de resposta para o WhatsApp, que não conseguimos ter”, disse, comentando que “os voluntários mal chegam para atender o telefone” e, como tal, “isto seria uma necessidade a pensar”.
As situações que mais motivam apelos à SOS Voz Amiga, a linha telefónica de apoio emocional mais antiga de Portugal, que completa 47 anos em outubro, são a depressão, ansiedade, comportamentos autolesivos, esquizofrenia e a solidão. Segundo Francisco Paulino, são as mulheres com mais de 60 anos quem mais se queixa de solidão, mas também há muitos jovens, agentes de autoridade colocados longe das famílias, trabalhadores sazonais e emigrantes.
A linha SOS Voz Amiga funciona habitualmente todos os dias das 15:30 às 00:30, através dos números 213544545, 912802669, 963524660 e 930712500.
NR/HN/Lusa



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