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Na pessoa idosa, as fraturas, frequentemente associadas a quedas, constituem um problema sério, pelo declínio funcional que condicionam e consequente dificuldade no retorno à condição funcional prévia. Esta ocorrência impacta significativamente a vida da pessoa, da família e igualmente os serviços de saúde.
Os resultados de um estudo conduzido na região centro de Portugal observou que estas pessoas, no regresso a casa, enfrentam dificuldades relacionadas com a limitação funcional, a incerteza na recuperação da independência, a preocupação com as barreiras arquitetónicas, o medo de cair e a incapacidade para a realização de atividades de vida diária (AVDs). Enfrentam ainda dificuldades no controlo da dor e controlo das emoções.
Por seu lado, a preocupação da família está centrada no suporte de cuidados e na sua (in)capacidade de resposta, relacionado com o suporte de cuidados, no qual enfrentam dificuldades ao nível da ajuda no autocuidado, com as barreiras arquitetónicas e apoio para a realização das AVDs, manifestando um sentimento de dificuldade na resposta adequada.
Os profissionais de saúde estão conscientes destas dificuldades, considerando que estas pessoas, no momento da alta hospitalar possuem uma condição de dependência no autocuidado e na realização das AVDs, que as famílias nem sempre estão preparadas para enfrentar essa realidade, que o regresso a casa é dificultado pelas barreiras arquitetónicas existentes no domicílio e pelo afastamento ou falta de suporte familiar.
A pessoa idosa a vivenciar esta situação, perceciona necessidades de vária ordem, desde logo, sente necessidade de apoio e ajudas técnicas, que lhes permita caminhar e progressivamente retomar a realização de atividades da sua vida diária, e aprender estratégias de readaptação a esta nova condição. Neste domínio, estas pessoas sentem ainda necessidade de suporte seja ele formal ou informal. As alterações que a ocorrência de uma fratura desta natureza induz na condição física da pessoa idosa, implicam uma necessidade de capacitação para o regresso a casa, no qual os enfermeiros têm um papel fundamental no ensino e treino não só da pessoa submetida a cirurgia, mas também da família, que irá assegurar a continuidade de cuidados após a alta hospitalar e por conseguinte gerir o risco de queda, presente nesta população.
Os familiares, com necessidade de reajuste da vida pessoal, vêm a sua preocupação centrada precisamente na necessidade de continuidade de cuidados e na sua (in)capacidade para a prestação de cuidados, designadamente ao nível da utilização de ajudas técnicas e estratégias de readaptação.
Face a esta realidade, importa pensar uma reorganização dos serviços de saúde, com melhoria da comunicação e trabalho em rede entre hospital e cuidados de saúde primários, no sentido de melhorar a transição hospital-comunidade, garantindo o suporte e a resposta adequada para fazer face às necessidades e dificuldades destas pessoas, promovendo uma transição segura e melhoria da capacidade funcional destas pessoas.
No sentido de garantir o supracitado, para além de orientações nacionais para a integração dos cuidados a estas pessoas, importa que os sistemas informáticos permitam a partilha de informação entre contextos de trabalho e que as equipas hospitalares e dos cuidados de saúde primários definam circuitos que promovam a transição de cuidados, prevenindo a desfragmentação dos mesmos e evitando que estas pessoas interrompam os programas de reabilitação iniciados no hospital, não só porque perdem força muscular e capacidade de marcha, com subsequente risco de aumento da dependência para a realização das atividades de vida diária, mas também pelo potencial impacto desta interrupção na confiança da pessoa na execução do autocuidado e na recuperação funcional.
Acresce que, o facto de já ter tido uma queda e de não ter recuperado a capacidade funcional para os níveis pré-fratura, a perda de força muscular bem como a capacidade de marcha e dependência em algumas AVDs, acrescem o risco de uma nova queda e de novas lesões associadas a este evento adverso, o que per si justifica uma abordagem diferente do sistema de saúde e da oferta de cuidados à população que se encontra em franco envelhecimento.


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