SPFCS aponta deficiências e estagnação no ensino pré-graduado farmacêutico

15 de Setembro 2025

O ensino pré-graduado em Ciências Farmacêuticas em Portugal revela uma estagnação preocupante, segundo um estudo recentemente divulgado pela Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS). 

A análise centra-se nos Mestrados Integrados em Ciências Farmacêuticas (MICF) das três principais faculdades públicas – Universidade de Coimbra, Universidade de Lisboa e Universidade do Porto – e evidencia a necessidade urgente de reestruturação curricular para alinhar a formação com as exigências atuais da profissão e da regulação europeia.

Desde 2005, a formação dos farmacêuticos na União Europeia é regulada pela Diretiva 2005/36/CE, que reforça o papel clínico do farmacêutico, valorizando competências como a análise crítica, a tomada de decisão informada e a aplicação rigorosa da ciência na área do medicamento e da saúde pública. No entanto, o estudo destaca que os planos de estudo em Portugal têm permanecido praticamente inalterados há mais de uma década, com alterações pontuais limitadas ao quinto ano do curso, sem impacto significativo na estrutura global dos programas.

A investigação, que abrange o período de 2010 a 2025, baseou-se na análise dos planos de estudo publicados em Diário da República e na avaliação detalhada dos conteúdos programáticos das unidades curriculares obrigatórias. A avaliação foi realizada por farmacêuticos com formação diversificada, que aplicaram uma grelha padronizada focada na relevância científica, regulamentar e profissional de cada disciplina, bem como na sua carga letiva e posicionamento no currículo.

Entre os aspetos mais críticos identificados está a falta de centralidade do medicamento nos programas de formação. Apesar de ser o eixo fundamental da profissão farmacêutica, o medicamento é abordado de forma marginal e fragmentada, sem uma integração consistente ao longo dos cinco anos de formação. Além disso, áreas emergentes como farmacogenómica, farmácia clínica, avaliação de tecnologias de saúde e regulação do medicamento encontram-se sub-representadas ou distribuídas de forma inadequada, comprometendo a preparação dos futuros profissionais para os desafios reais da prática.

Este estudo sublinha a necessidade premente de modernizar e reestruturar o ensino das Ciências Farmacêuticas em Portugal para acompanhar a rápida evolução da profissão, marcada por novas exigências clínicas, regulamentares e tecnológicas.

NR/PR/HN

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