“O cancro não tem código postal”: nova rede assegura igualdade no acesso a cuidados oncológicos

18 de Setembro 2025

A Infraestrutura Compreensiva de Cancro do Norte de Portugal, projeto-piloto que junta hospitais, instituições académicas e de investigação e associações de doentes, visa garantir o acesso equitativo a cuidados de excelência, disse hoje o presidente do IPO do Porto.

“O cancro não tem código postal. Isso é um dos grandes valores do Serviço Nacional de Saúde: garantir o acesso democrático aos cuidados mais diferenciados. Mas não chega só colocar dinheiro no sistema para que ele funcione. É absolutamente essencial colocar muita energia e muita atenção na organização do sistema”, defendeu Júlio Oliveira.

Em declarações à agência Lusa, a propósito da criação da Infraestrutura Compreensiva de Cancro do Norte de Portugal que é formalizada hoje, o presidente do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto sublinhou a ideia de que “o cidadão não pode estar limitado no acesso aos cuidados mais diferenciados de saúde, dependendo do sítio onde mora ou da sua condição social”.

O acordo colaborativo para o desenvolvimento desse projeto será assinado pelo IPO do Porto, Unidade Local de Saúde (ULS) do Alto Ave, ULS de Braga, ULS de Gaia/Espinho, Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S).

A cerimónia está marcada para as 16:00 e deverá juntar, também, representantes da Direção-Executiva do SNS, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), do Programa Nacional das Doenças Oncológicas da Direção-Geral da Saúde (DGS), do Infarmed e da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB).

A Infraestrutura Compreensiva de Cancro do Norte de Portugal (Comprehensive Câncer Infrastructure of North of Portugal – CCINP) pretende ser uma rede colaborativa entre instituições para promover “uma jornada do doente oncológico mais coordenada, acesso equitativo a cuidados de excelência, redução de custos e avanços em investigação clínica e inovação terapêutica”, bem como “melhoria dos cuidados em oncologia”, sendo expectável que tenha “potencial impacto no desenvolvimento social e económico da região”, lê-se na descrição enviada à Lusa.

“O combate do cancro hoje implica um trabalho de equipa. Já não se pode tratar o cancro dentro das paredes de um só hospital. É essencial que as instituições de saúde que cuidam os doentes, as instituições que investigam a doença oncológica, as organizações que representam os doentes, a academia, reúnam esforços, se articulem”, acrescentou Júlio Oliveira.

Este projeto-piloto, que parte de um outro de âmbito europeu, terá como área concreta a medicina de precisão.

Num futuro próximo, poderá estar focada em tipos de cancro como o do pulmão ou colorretal, mas, neste momento, explicou Júlio Oliveira, o foco é no “desenvolvimento de um ecossistema que potencie o acesso dos doentes a tecnologias de sequenciação genómica que permitem caracterizar melhor os tumores”.

“Quer sejam adultos ou crianças que sofrem doença oncológica, a ideia é que possamos oferecer as melhores opções de tratamento, as mais personalizadas, as mais adaptadas às características do tumor”, descreveu.

Reforçando que este projeto está alinhado com a estratégia do Serviço Nacional de Saúde, e lembrando que a Comissão Europeia definiu a área da oncologia como uma área estratégica, o presidente do IPO do Porto apontou como objetivo “a coordenação entre pares, entre profissionais de saúde, entre as direções das próprias instituições de saúde, de forma a que o doente possa fluir pelo sistema de saúde de forma mais rápida”.

“Independentemente do ponto de entrada de um doente ou do cidadão com suspeita de doença oncológica ou com doença oncológica confirmada no sistema de saúde, independentemente da sua localização geográfica, tem de ter acesso ao melhor padrão de cuidados e à inovação mais recente. Isso tem de ser uma garantia”, referiu.

Júlio Oliveira acredita que esta visão “vai permitir reduzir custos, reduzir redundâncias, aumentar a velocidade com que o doente é diagnosticado e tratado, potenciar o acesso à inovação terapêutica, não só através de ensaios clínicos, mas à inovação terapêutica resultante de vários investimentos de diferentes estruturas”.

“Esta é uma forma de identificarmos quais são as fragilidades, mas também quais são os pontos fortes da rede”, resumiu, destacando, por fim, que em causa está uma doença que envolve muita fragilidade.

lusa/HN

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