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Na espuma dos dias, quando o tempo escorre sem aviso, esquecemo-nos de refletir sobre o que é essencial. A pressa corrói a atenção, e a desatenção desvia-nos das questões fulcrais do ser humano. A literacia em saúde exige mais do que informação: requer competências cognitivas entrelaçadas com a sensibilidade afetiva, para que possamos, no quotidiano, resolver as situações de saúde que nos atravessam a vida.
Mas é preciso ir para além da amígdala, ir para além da resposta imediata, da emoção que nos prende ao instante. É preciso olhar para o futuro, para o que está à frente. Porque se adiarmos demasiado, quando quisermos mudar poderá ser tarde.
Alimentar bem o corpo e o espírito não é uma opção, é uma necessidade. Manter o inquieto, o pensamento desperto, é tão vital como mexer o corpo. Pelo menos trinta minutos de movimento diário — caminhar, dançar, correr, ou simplesmente subir escadas — são um investimento. É a energia dos músculos que sustenta, no futuro, o corpo que naturalmente se desgasta.
E porque não basta a metáfora, olhemos os números, frios e urgentes. No mundo, mais de 1,9 mil milhões de adultos têm excesso de peso e, destes, 650 milhões vivem com obesidade, segundo a OMS. A obesidade deixou de ser uma condição individual para se tornar numa pandemia silenciosa, que alimenta outras doenças. Entre elas, as cardiovasculares — ainda a principal causa de morte global, responsáveis por cerca de 17,9 milhões de vidas perdidas todos os anos, afirma também a OMS.
De acordo com a International Diabetes Federation, a diabetes tipo 2, frequentemente associada ao excesso de peso, já atinge 537 milhões de adultos em todo o mundo, e prevê-se que chegue a 643 milhões em 2030. A hipertensão arterial, silenciosa e traiçoeira, afeta 1,28 mil milhões de adultos entre os 30 e 79 anos, metade sem diagnóstico. E o cancro, esse espelho das fragilidades do corpo e do ambiente, foi responsável por quase 10 milhões de mortes em 2020, diz a International Agency for Research on Cancer.
Estes números não são apenas estatísticas: são rostos, famílias, histórias interrompidas. A ciência oferece-nos o diagnóstico, mas a literacia em saúde dá-nos o mapa para o caminho. Significa compreender os riscos, decidir melhor, mudar o que ainda pode ser mudado. Não se trata de viver eternamente, mas de viver melhor, com mais qualidade, mais consciência, mais presença.
O corpo pede movimento, o espírito pede alimento, e a vida pede atenção. O inquieto que há em nós é o motor da transformação. Porque ir além da amígdala é escolher, todos os dias, a construção paciente de um futuro mais saudável.


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