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O projeto “AAV-Based Gene Therapy for PPMS”, liderado pelo neurocientista Matthew Holt da Aila Biotech, sediada no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi o vencedor da primeira edição do Prémio Jorge Ruas. A distinção, no valor de 100 mil euros, foi entregue no passado dia 17 de setembro, numa cerimónia realizada na sede da Ordem dos Farmacêuticos, em Lisboa, no âmbito da Tecnimede Open Innovation Competition, uma iniciativa do Grupo Tecnimede em parceria com a HiseedTech.
A investigação premiada foca-se no tratamento da Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EMPP), uma forma da doença para a qual atualmente não existe uma terapia eficaz. A abordagem pioneira, designada “Triple Lock System”, baseia-se na utilização de um vetor viral modificado e seguro, capaz de ultrapassar a barreira hematoencefálica – uma estrutura que protege o cérebro – para entregar um agente terapêutico. “Uma vez reprogramadas, estas células passam a produzir localmente um agente anti-inflamatório, reduzindo a inflamação crónica de forma controlada e reversível, através da administração de um fármaco que atua como ‘interruptor de segurança'”, explicou Matthew Holt. O investigador acrescentou que a tecnologia tem potencial para ser aplicada noutras doenças cerebrais inflamatórias associadas ao envelhecimento.
Com o financiamento do prémio e a oportunidaArtigode de colaboração com o Grupo Tecnimede, a equipa planeia agora avançar para estudos pré-clínicos em roedores e primatas não humanos. “O nosso objetivo é validar as premissas científicas do trabalho e, num prazo de três anos, estar preparados para iniciar os primeiros ensaios clínicos”, afirmou o neurocientista.
A cerimónia de entrega do prémio contou com a presença de várias individualidades, incluindo Maria do Carmo Neves, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Tecnimede, Amílcar Falcão, Reitor da Universidade de Coimbra e presidente do júri, Hélder Mota Filipe, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Francisco Rocha Gonçalves, Secretário de Estado da Gestão da Saúde, e Rui Ivo, Presidente do INFARMED.
O evento incluiu uma mesa-redonda subordinada ao tema “Ciência e empresas: pontes ou muros invisíveis?”, moderada pela jornalista Clara de Sousa. Durante o debate, os participantes identificaram a burocracia, a falta de alinhamento estratégico e a desconfiança mútua como os principais obstáculos a uma colaboração mais eficaz entre a academia e a indústria. Hélder Mota Filipe defendeu ser “fundamental alinhar estratégias e criar condições, tanto nas universidades como na indústria, para que as relações de colaboração possam ser verdadeiramente produtivas”.
Na mesma linha, Amílcar Falcão salientou que “se os interesses da universidade não coincidirem com os da indústria, nunca teremos a combinação virtuosa que gera inovação”, alertando para a necessidade de políticas públicas que simplifiquem processos e reduzam a burocracia. Para ultrapassar estas barreiras, os especialistas presentes defenderam a criação de uma “terceira via”, com equipas dedicadas a construir pontes entre a investigação e o setor empresarial. “Temos de encontrar soluções intermédias, com pessoas dedicadas exclusivamente a aproximar academia e indústria. Só assim será possível ultrapassar a lógica de desconfiança e transformar ciência em inovação com impacto real”, concluiu Maria do Carmo Neves.
O Prémio Jorge Ruas, que integra a competição de inovação aberta do Grupo Tecnimede, tem como objetivo financiar projetos inovadores com potencial para revolucionar a indústria farmacêutica, honrando a visão do seu fundador. O júri internacional foi presidido por Amílcar Falcão e integrado por especialistas nacionais e internacionais da área da saúde. Mais informações sobre o prémio e a competição podem ser encontradas no site oficial da iniciativa.
PR/HN



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