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No último século, os avanços da medicina e a melhoria das condições de higiene e sanitárias têm-nos permitido viver mais tempo. Mas, viver mais anos, também significa lidar com uma população cada vez mais envelhecida, com maior prevalência de doença crónicas e níveis de dependência acrescidos. Este paradigma epidemiológico conduz a uma pressão crescente sobre os hospitais, refletida na sobrelotação dos serviços de urgência e no aumento da procura de camas hospitalares.
Para responder a este desafio, a hospitalização domiciliária (HD) surge como uma alternativa segura e eficaz ao internamento convencional. Trata-se de uma resposta assistencial que leva os cuidados habitualmente prestados no hospital até à casa do doente, com o mesmo nível de complexidade e diferenciação. A equipa médica e de enfermagem assegura visitas presenciais diárias, e acompanha as necessidades do internamento 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Em Portugal, a primeira Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) foi criada em 2015. Desde então, esta modalidade de internamento tem vindo a afirmar-se no Serviço Nacional de Saúde, sendo a população idosa a principal beneficiária. O cuidar em casa deslocaliza a prestação de cuidados do hospital para o conforto do domicílio, aproximando-os da realidade sociocultural de cada pessoa. Esta proximidade facilita uma relação mais estreita e de maior confiança entre profissionais, doente e família, permitindo uma resposta integrada e centrada na pessoa.
Os resultados clínicos obtidos são equiparáveis, ou mesmo superiores, aos verificados no internamento hospitalar, podendo até apresentar vantagens adicionais: menor tempo de internamento, prevenção de complicações associadas à hospitalização (como quedas, infeções associadas aos cuidados de saúde, agravamento da dependência física ou declínio cognitivo) e elevados níveis de satisfação dos doentes, famílias e profissionais de saúde.
Entre os benefícios da hospitalização domiciliária, destacam-se ainda: mais tempo de dedicação dos profissionais ao doente, e de forma exclusiva; maior disponibilidade do doente e família para adquirirem conhecimentos sobre a sua doença e abordagem terapêutica; participação ativa do doente e da família no processo de cuidados; redução do risco de deterioração do estado funcional; e melhor articulação com os cuidados de saúde primários.
Ao contrário do internamento tradicional, que frequentemente está associado à imobilidade e perda de capacidades, a hospitalização domiciliária estimula a realização das atividades diárias no próprio contexto de vida, adaptadas à situação clínica e supervisionadas por profissionais de saúde, reforçando a independência, a autonomia e a humanização dos cuidados.
As equipas das UHD constituem um recurso fundamental no apoio e suporte às pessoas e seus cuidadores. A sua intervenção ajuda a identificar barreiras arquitetónicas no domicílio, a encontrar soluções adaptadas e material de apoio adequado a cada situação, bem como a prevenir complicações que possam comprometer a recuperação da independência. Deste modo, é possível delinear um plano de reabilitação individualizado e orientado para a promoção da autonomia e para a prevenção de incapacidades.
A evidência disponível sustenta a necessidade de expansão destas unidades a todos os hospitais públicos, garantindo equidade no acesso a uma resposta segura, eficaz e custo-efetiva. Para além de responder a estes critérios, a HD constitui também um modelo de assistência clínica inovador, que capacita a pessoa e o cuidador para gerir melhor a doença, valoriza a independência e promove ganhos claros em saúde, viabilizando uma experiência de internamento mais positiva e uma abordagem de cuidados mais holística e humanizada.
A edificação de um “hospital sem muros” reduz o impacto psicológico e emocional da hospitalização, valoriza o papel da família/cuidador, previne a institucionalização precoce e promove um ambiente favorável ao desenvolvimento do máximo potencial funcional da pessoa internada.
Mais do que levar cuidados de saúde até casa, a hospitalização domiciliária transporta também segurança, proximidade e esperança. No seu lar, rodeada de memórias e da família, a pessoa idosa encontra o melhor lugar para recuperar na fase aguda ou na agudização da doença, e onde a vida ganha mais sentido.


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