Organizações respiratórias europeias alertam para ataques à ciência que ameaçam Saúde Pública

23 de Setembro 2025

A Sociedade Respiratória Europeia e a Fundação Europeia do Pulmão emitiram um apelo urgente para travar o aumento de ameaças à ciência, incluindo desinformação e cortes de financiamento. As organizações alertam que estes ataques, que ecoam táticas históricas da indústria tabaqueira, põem em risco anos de progresso médico e podem agravar o impacto das alterações climáticas na saúde, particularmente para os 81,7 milhões de europeus com doenças respiratórias crónicas.

A Sociedade Respiratória Europeia (ERS) e a Fundação Europeia do Pulmão (ELF) lançaram um alerta urgente sobre as crescentes ameaças à ciência e aos cientistas, que consideram ter consequências graves para a saúde pública global. As organizações manifestam profunda preocupação com campanhas de desinformação, pressão política e cortes de financiamento que comprometem décadas de progresso na investigação médica.

Num paralelo histórico, a declaração refere que táticas para explorar deliberadamente a incerteza pública e minar a confiança na ciência já foram usadas no passado, nomeadamente pela indústria tabaqueira a partir da década de 1950. Atualmente, apesar dos avanços transformadores provenientes de investigação baseada em evidências, como vacinas ou políticas de ar limpo, estes ataques podem anular progressos e colocar doentes e comunidades em risco.

O apelo é particularmente direcionado aos impactos na saúde climática. As alterações climáticas são identificadas como uma emergência de saúde pública com efeitos diretos na saúde respiratória. Estima-se que 81,7 milhões de pessoas na Região Europeia vivam com uma doença respiratória crónica, sendo que um estudo recente em Inglaterra concluiu que o risco de hospitalizações por Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) aumenta 1,5% por cada grau Celsius de aumento de temperatura. A menos que a investigação prossiga e sejam tomadas medidas climáticas, a exposição a temperaturas extremas afetará negativamente milhões de pessoas.

Dimitris Kontopidis, presidente da ELF, sublinhou a importância do acesso a informação fidedigna: “Os pacientes e o público merecem acesso a informações confiáveis e baseadas em evidências. Todos têm o direito de tomar decisões de saúde com base em conhecimento confiável, e não em desinformação que coloque vidas em risco.”

A declaração conjunta define três prioridades urgentes: defender a ciência independente como base para decisões clínicas e políticas; combater a desinformação online que corrói a confiança; e fortalecer a colaboração internacional, considerada essencial para crises de saúde.

A ERS e a ELF apelam diretamente às instituições europeias, governos nacionais e decisores políticos para que protejam a investigação transfronteiriça, mantenham a integridade científica, desafiem a desinformação e garantam financiamento sustentável para a saúde pública e investigação.

A Dra. Eva Polverino, Diretora de Relações Científicas da ERS com a União Europeia, acrescentou: “A ciência independente e colaborativa é a espinha dorsal da saúde pública. Ela deve ser protegida da desinformação e da manipulação política se quisermos enfrentar os desafios urgentes da atualidade, desde a poluição do ar e as mudanças climáticas até as doenças infecciosas e crónicas.”

O alerta surge num contexto de preocupação com cortes orçamentais. Em julho de 2025, a ERS já havia expressado apreensão com a proposta da Comissão Europeia para o Quadro Financeiro Plurianual 2028-2034, que prevê a fusão ou redução de verbas para saúde e ambiente, áreas fundamentais para combater ameaças como a poluição atmosférica, responsável por cerca de 300.000 mortes prematuras anuais na Europa.

PR/HN

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