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O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) reconheceu esta segunda-feira, perante os deputados da comissão parlamentar de Educação e Ciência, que houve um “lapso” na comunicação sobre o conturbado concurso especial de acesso a Medicina. Altamiro da Costa Pereira atribuiu o equívoco ao vogal do Conselho Executivo, Hélio Alves, que, “fruto da sua ingenuidade, da sua boa-fé e da sua inexperiência”, terá usado a palavra “homologado” quando o correto seria “retificado”. “Enganou-se. Enganou-se valha-nos Deus”, desabafou o diretor, acrescentando que se trata de “um homem que tem trabalhado de forma extraordinária”.
Em contraponto direto, o reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, que também participou na audição no Parlamento, elevou dramaticamente o tom das acusações. Afirmou ter enviado documentos para o Ministério Público após descobrir o que classificou como atas e assinaturas falsificadas no processo da FMUP. “O caso passou a ser um crime de falsificação de documentos”, declarou, apontando o dedo ao que descreveu como a “cereja em cima do bolo”: o testemunho de uma professora da comissão de seleção que terá negado ter participado ou assinado as atas em questão.
O reitor foi mais longe e revelou ter sido alvo de ameaças físicas a si e à sua família, situando esses episódios antes da publicação de uma notícia do Expresso a 5 de setembro. Essa reportagem dava conta de pressões para admitir 30 candidatos sem a classificação mínima de 14 valores, no centro de toda esta contenda.
Do lado da FMUP, Altamiro da Costa Pereira insistiu na legalidade do processo, sustentando que os procedimentos não foram alterados desde o início do seu mandato, em 2019. Lembrou que nesse ano ingressaram 37 candidatos com menos de 14 valores sem qualquer questionamento, defendendo o espírito do concurso especial para atrair médicos com “outra maturidade” e “percursos académicos” distintos. Sobre eventuais irregularidades processuais, desviou responsabilidades: “Se os processos estão errados é que se queixem à Reitoria”.
Entretanto, os candidatos envolvidos manifestam-se como as verdadeiras vítimas do impasse, alegando terem mudado de cidade, abandonado empregos, feito investimentos e desistido de outros mestrados com base numa vaga que lhes foi retirada. A confirmação de que o Ministério Público investiga o caso, dada a 18 de setembro, veio acrescentar uma camada formal de gravidade a uma disputa que divide a academia portuense.
NR/HN/Lusa



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