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O comité de especialistas em vacinas nomeado pelo secretário da Saúde norte-americano, Robert Kennedy Jr., alterou a recomendação para a imunização de crianças com menos de quatro anos contra o sarampo, a papeira, a rubéola e a varicela. Em vez da vacina combinada única (VASPRV), o Comité Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) passou a preconizar a administração de duas injeções separadas: a vacina tríplice viral (VASPR) e a vacina contra a varicela.
A justificação apresentada na quinta-feira prende-se com um risco minimamente aumentado de convulsões febris, um efeito secundário considerado raro e geralmente benigno, associado à formulação tetravalente em crianças mais pequenas. Para a faixa etária dos quatro aos 12 anos, a recomendação manteve-se inalterada, preferindo-se a vacina combinada, uma vez que o perfil de segurança é mais favorável nestas idades.
A medida gerou contestação imediata entre especialistas em saúde pública e doenças infecciosas, que a consideram desnecessária e potencialmente danosa. A epidemiologista Syra Madad disse à France-Presse que qualquer alteração deve “fortalecer, e não enfraquecer, o sistema que garante a saúde das nossas crianças”. Por seu turno, Sean O’Leary, especialista em doenças infecciosas pediátricas, classificou a decisão como “mais uma estratégia para assustar os pais”.
Esta mudança ocorre num contexto preocupante de recuo nas taxas de vacinação infantil nos Estados Unidos desde a pandemia. Uma sondagem recente revelou que um em cada seis pais evita ou adia as vacinas do programa nacional, indicando desconfiança. A proporção de crianças em idade pré-escolar vacinadas contra o sarampo caiu de 95% em 2019 para 92,5% em 2024, com estados como o Idaho a registarem coberturas abaixo dos 80%. Este declínio está na origem do pior surto de sarampo no país em três décadas, que em 2025 já causou três mortes, incluindo duas crianças.
Martin Kulldorff, o bioestatístico que lidera o comité nomeado por Kennedy Jr. – uma figura proeminente do movimento antivacinas –, defendeu a independência do grupo, afirmando ser “pró-vacina” e que atuará com base em ciência. “Quando há opiniões científicas divergentes, confie apenas em cientistas dispostos a dialogar e a debater publicamente”, declarou.
Já Wilbur Chen, especialista em doenças infecciosas, contrapôs à AFP que o comité não tem “qualquer intenção de debater com base em ciência sólida”, acusando-o de repetir “informações falsas e falsificadas”. Esta revisão da vacina combinada poderá ser a primeira de outras, estando já em análise a vacina contra a hepatite B em recém-nascidos e as vacinas contra a covid-19.
NR/HN/Lusa



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