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Viseu será palco na sexta-feira da apresentação de um dispositivo desenvolvido em Portugal que permite identificar bactérias e as suas resistências em tempo real, um avanço que poderá alterar de forma profunda a luta contra as infeções. A tecnologia, criada pela ALS no âmbito do consórcio SMARTgNOTICS, está prestes a iniciar a fase de testes em ambiente hospitalar e veterinário, concretamente no hospital CUF e no grupo Lusiaves.
A urgência de soluções deste género é clara. A ALS não se cansa de sublinhar que a resistência antimicrobiana mata cada vez mais pessoas a nível global, um drama que se repete na esfera veterinária. A empresa defende que esta nova ferramenta pode mudar a forma como se lida com o problema. A grande vantagem, explicam, reside na capacidade de identificar o agente patogénico rapidamente, permitindo uma administração mais certeira do antibiótico adequado, em vez de se recorrer a tratamentos de largo espectro que contribuem para o próprio problema das resistências.
A mesa-redonda que acompanha a apresentação juntará especialistas de várias áreas, refletindo a abordagem “One Health” que considera indissociáveis a saúde humana, animal e ambiental. Manuela Caniça, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, trouxe para a conversa a dimensão política e global do desafio, recordando o reconhecimento das Nações Unidas sobre a necessidade de investir em novas soluções. A especialista foi perentória: só com testes de diagnóstico rápidos e de custo acessível, particularmente nos países com menos recursos, se poderá travar esta ameaça. Defendeu, por isso, um investimento sério em sistemas laboratoriais inovadores e a garantia de que estes chegam a todas as populações.
Já Patrícia Poeta, coordenadora do grupo de investigação MicroART, pintou um cenário sombrio caso não se atue de forma integrada, alertando para a possibilidade de um retrocesso sanitário com contornos imprevisíveis. A resistência aos antibióticos, disse, compromete intervenções médicas essenciais em todos os domínios. Em Viseu, prometeu esboçar estratégias interdisciplinares para uma ação mais coordenada.
No terreno, os clínicos sentem na pele a pressão do problema. Joana Lemos, da CUF, descreveu a resistência antimicrobianos como uma realidade diária que se traduz em internamentos mais longos, mais complexos e num trágico excesso de mortalidade. Para ela, o caminho passa não só pela inovação tecnológica, como a que será apresentada, mas também por um investimento firme na literacia da população e no uso racional dos medicamentos existentes.
Sílvio Santos, da Universidade do Minho, trouxe à colação uma alternativa promissora no combate a este flagelo: os bacteriófagos. Perante a ameaça crescente que já figura como uma das principais causas de morte mundial, e com o espectro de infeções comuns se tornarem intratáveis, o investigador vê neste vírus que atacam bactérias uma abordagem inovadora e cheia de potencial. A sua apresentação em Viseu poderá abrir novas frentes no debate.
A ALS, empresa global com instalações em Tondela, posiciona-se assim na linha da frente de um esforço coletivo que exige respostas rápidas, literalmente.
NR/HN/Lusa



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