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Um estudo nacional inédito veio cravar uma nova realidade no panorama da saúde neurológica portuguesa: a epilepsia é significativamente mais comum do que se julgava. Os dados do EpiPort, um inquérito de base populacional conduzido pela Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, apontam para uma prevalência da doença de 9,76 casos por cada mil habitantes. Estamos a falar de uma estimativa que ultrapassa as 100 mil pessoas – concretamente, 100.993 – a viver com a condição no país.
Estes números, obtidos entre maio de 2023 e julho de 2024 através de um inquérito porta-a-porta que abrangeu 10.666 indivíduos, representam um salto substancial face ao último retrato conhecido. Em 1998, a taxa de prevalência situava-se nos 4,4 por mil. A dimensão do aumento, mais do que duplicando a estimativa anterior, surpreendeu a própria comunidade que acompanha a área.
Perante estes resultados, José Pimentel, presidente da Liga Portuguesa contra a Epilepsia, não esconde a urgência do que foi descoberto. “Os resultados do estudo EpiPort são um alerta”, afirmou. “A epilepsia afeta uma parcela significativamente maior da população portuguesa do que se estimava. Esta realidade sublinha a necessidade de reforçar os programas de saúde nesta área”. Para o clínico, é fundamental que a sociedade no seu conjunto reconheça o verdadeiro impacto da doença e se invista na melhoria dos cuidados.
O EpiPort, que contou com o apoio da Angelini Pharma, foi desenhado precisamente para colmatar uma lacuna de informação que se arrastava há décadas. Um comité de médicos especialistas de todo o país dedicou-se a validar cada um dos diagnósticos apurados pelo trabalho de campo, conferindo solidez aos números agora tornados públicos.
Do lado da farmacêutica que financiou a iniciativa, a leitura é de que se abriu um caminho incontornável para a ação. Nuno Brás, Diretor-geral da Angelini Pharma em Portugal, destacou o “sentido de responsabilidade” que motivou o apoio ao estudo. “Os dados agora revelados são de uma importância inestimável para a comunidade médica e para os decisores políticos”, referiu. O objetivo, acrescentou, passa por “continuar a trabalhar em conjunto com a comunidade científica e as autoridades de saúde para garantir que a epilepsia receba a atenção e os recursos necessários”.
Os primeiros resultados do EpiPort foram já partilhados com a comunidade científica internacional durante o 36.º Congresso Internacional de Epilepsia, que decorreu em Lisboa no final de agosto e reuniu mais de 4200 delegados. A epilepsia, uma doença cerebral que se caracteriza por crises recorrentes e imprevisíveis, continua a ser uma das condições neurológicas mais comuns a nível global, afetando cerca de 50 milhões de pessoas. A sua gestão clínica é complexa e variável, exigindo uma abordagem personalizada que contemple não só o controlo das crises, mas também a adaptação do doente à sua condição.
PR/HN



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