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Dois anos volvidos sobre a última intervenção, Eva Domingos garante ter renascido. Aos 43 anos, a paciente foi submetida a duas cirurgias cardíacas – a primeira em 2009, no Hospital Josina Machel, e a segunda catorze anos mais tarde, no Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, a única unidade de cirurgia cardiovascular de Angola. “Antes sentia-me muito cansada, tinha os pés inflamados. Hoje tenho nova disposição e um coração novo”, descreveu, com um sorriso que não escondia.
A sua trajectória clínica espelha a de outras centenas de angolanos. Com o encerramento do Josina Machel, Eva aguardou mais de uma década pela substituição da prótese biológica. “Se não te aceitas, fica muito difícil. Graças a Deus, nas duas cirurgias foi tudo tranquilo e hoje faço os meus trabalhos domésticos e profissional normalmente”, contou à Lusa, numa partilha serena.
O centro, inaugurado a 30 de novembro de 2021, acaba de atingir a marca de mil cirurgias cardiovasculares em adultos. A paciente mil, Angélica Chilombo, de 60 anos, foi operada na segunda-feira, Dia Mundial do Coração, numa intervenção às válvulas. Ainda entubada, mas já fora dos cuidados intensivos, a mulher acenou a jornalistas durante visita ao hospital. Com gesto débil, mas determinado, corrigiu depois a equipa médica: num papel, escreveu que se chama Angélica, e não Angelina.
Márcia Pascoal, 32 anos, a paciente 999, operada a 3 de setembro, já se encontra em casa. “Graças a Deus estou bem depois da cirurgia”, assegurou, referindo uma rotina agora sem as palpitações e a dispneia que a afligiam. “Hoje renasci. Sendo dona de casa, sentia-me mal. Agora tomo banho sozinha, faço a medicação e a fisioterapia. Tudo tranquilo.” Ainda com uma prótese biológica temporária, mantém uma dieta regrada e evita esforços.
Eva e Márcia integram agora a Associação Coração de um Amigo, formada por antigos pacientes do CHDCP. Esta manhã, visitaram o hospital, levaram merenda e dirigiram palavras de conforto aos doentes internados no bloco cardíaco.
Iuri Betuel, cirurgião cardiovascular e chefe da secção, confirmou o número redondo. “A cirurgia mil foi realizada ontem com sucesso”, declarou, sublinhando a coincidência com a efeméride. A unidade realiza em média quatro intervenções por semana, um ritmo que pode duplicar face a urgências. “Realizamos atualmente todos os procedimentos cardiovasculares, com exceção do transplante cardíaco”, explicou. O Ministério da Saúde ambiciona, contudo, implementar esse serviço no país.
Segundo Betuel, as mil operações realizadas nos últimos três anos contribuíram de forma significativa para reduzir o envio de doentes com cardiopatia para o exterior.
NR/HN/Lusa



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