Urgências registam menos 34% de encerramentos até agosto, mas carência de médicos persiste

2 de Outubro 2025

As urgências hospitalares registaram menos 481 dias de encerramento entre janeiro e agosto, uma quebra de 34% face a 2024. A Direção Executiva do SNS aponta melhorias, mas admite uma "grande escassez" de profissionais, sobretudo em obstetrícia e pediatria.

Os serviços de urgência nacionais totalizaram menos 481 dias de encerramento nos primeiros oito meses de 2025, uma redução de 34% face a 2024. A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) divulgou os dados esta terça-feira, salientando uma “evolução positiva” mas sem ilusões sobre o cerne do problema: uma “grande escassez” de profissionais que continua a condicionar a abertura destes serviços.

A análise por valências mostra que a urgência geral registou a quebra mais expressiva nos meses de verão, com uma descida de 85% nos encerramentos entre junho e agosto. No mesmo período, a pediatria reduziu os fechos em 48% e a obstetrícia em 35%. No conjunto desses três meses, tradicionalmente mais críticos, o sistema evitou 285 dias de paralisação.

No complexo fim de semana de 15 de Agosto, marcado pelo feriado e pelo pico de férias, a rede conseguiu assegurar a abertura de 100% das urgências gerais, 98% das pediátricas e 90% das obstétricas. Um desempenho que Álvaro Almeida, líder da DE-SNS, enalteceu, ainda que a realidade no terreno permaneça frágil.

A melhoria nos números não esconde a crise de recursos humanos, particularmente sentida nas especialidades de ginecologia/obstetrícia e pediatria. Esses constrangimentos, reconhece o organismo, “têm impacto direto no funcionamento” de um modelo de urgência que, não se cansa de sublinhar, tem “revelado fragilidades ao longo dos anos”.

Na Península de Setúbal, zona particularmente afetada, os encerramentos nos serviços de obstetrícia foram mais frequentes nas Unidades Locais de Saúde (ULS) do Arco Ribeirinho e de Almada/Seixal. Para fazer face à situação, está em vigor um sistema de rotatividade entre a ULS Arco Ribeirinho, a ULS Arrábida e a ULS Almada/Seixal, que tem garantido – assim o assegura a DE-SNS – a resposta na região.

A solução de fundo que o Governo persegue, a curto prazo, passa pela criação de uma urgência regional de obstetrícia para a Península de Setúbal. O modelo prevê que o Hospital Garcia de Orta funcione em permanência, enquanto o Hospital de Setúbal receberá os casos encaminhados pelo SNS 24 e pelo INEM.

Esta reestruturação, contudo, não é pacífica. A possibilidade de encerramento da urgência obstétrica no Barreiro motivou recentemente uma concentração de dezenas de utentes junto ao hospital local, num protesto contra a medida. Os autarcas da região já vieram também a público manifestar a sua oposição, pondo em causa a solução desenhada pelo Executivo.

A leitura global é, pois, de um SNS a tentar equilibrar-se entre números mais favoráveis nas estatísticas e uma realidade quotidiana que teima em não ceder, esbarrando sempre na mesma limitação crónica: a falta de médicos.

NR/HN/Lusa

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