Inquérito: Saúde intestinal condiciona saúde mental e rendimento escolar em Portugal

6 de Outubro 2025

Um estudo nacional conclui que os problemas intestinais afetam o bem-estar psicológico de uma parte significativa da população. Jovens adultos e crianças são dos grupos mais vulneráveis, com relatos de ansiedade e quebras no rendimento escolar associados a este desconforto

Quase metade dos portugueses, 48% para ser exato, vive com problemas intestinais que vão muito além do desconforto físico, minando a energia, o humor e a saúde mental. As conclusões são de um inquérito nacional realizado para a farmacêutica Biocodex, que traça um retrato de como a barriga pesa na cabeça dos portugueses, com particular crudeza entre os mais jovens.

O estudo, que inquiriu mil pessoas, apurou que 27% dos inquiridos sentem os níveis de energia a definhar por causa do estado do seu intestino. Um quarto da população admite viver envolta em mau humor derivado a estes problemas, enquanto 22% reportam episódios de ansiedade e 21% veem o seu sono afetado. Na faixa etária entre os 18 e os 24 anos, a ligação torna-se ainda mais nítida: um em cada três jovens adultos associa diretamente os seus sintomas digestivos a picos de ansiedade.

Esta realidade tem um eco particularmente forte no seio das famílias. A investigação mostra que 20% das crianças em idade escolar sofreram com dores abdominais ou diarreia no último ano. As consequências são palpáveis: uma em cada cinco crianças afetadas viu o seu estudo ou rendimento escolar prejudicado, 18% sentiram-se ansiosas e 17% tiveram problemas de concentração. Para os pais, a gestão diária destas queixas transforma-se numa fonte de stresse adicional, com um terço a admitir que a situação dos filhos lhes pesa emocionalmente, complicando rotinas e até a logística das refeições.

Luís Gomes, Diretor de Marketing da Biocodex Portugal, sublinha que “o estudo mostra como sintomas muitas vezes subvalorizados, como inchaço ou dores abdominais, têm impacto real no bem-estar psicológico”. Gomes defende que “assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental é também reconhecer que cuidar da saúde intestinal pode ser uma estratégia fundamental de promoção da nossa saúde mental”.

Apesar de 79% dos portugueses considerar a saúde intestinal “muito ou extremamente importante” para o seu bem-estar geral, o conhecimento sobre o tema é uma miragem. Apenas 22% diz ter bons conhecimentos sobre a matéria. Seis em cada dez inquiridos nunca ouviram falar do microbioma intestinal ou sabem muito pouco. Esta desconexão entre a perceção de importância e a literacia real reflete-se nos hábitos. Quase metade da população não sabe ao certo o que são probióticos e apenas 12% os consomem regularmente, embora quatro em cada dez acreditem no seu potencial benéfico.

A ciência tem vindo a desvendar os mecanismos por trás desta ligação íntima, focando-se no eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional. A microbiota intestinal, essa comunidade única de microrganismos que cada um de nós alberga, está no centro do debate. Participa na produção de neurotransmissores fundamentais como a serotonina e a dopamina. Quando o seu equilíbrio se perde, um fenómeno a que se chama disbiose, o corpo pode entrar em falha, desencadeando não só problemas digestivos mas também alterações no humor, no metabolismo e na imunidade. Cuidar deste ecossistema interno através de hidratação, dieta rica em fibras, sono adequado e gestão de stresse surge assim não como um capricho, mas como uma necessidade premente para travar este desconforto mudo que tantas vidas condiciona.

PR/HN

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