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A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom contra a expansão dos cigarros eletrónicos, uma moda que já prendeu pelo menos 15 milhões de adolescentes entre os 13 e os 15 anos à nicotina. O dado, extraído do “Relatório Global da OMS sobre as Tendências da Prevalência do Tabaco 2000-2024 e Projeções 2025-2030”, pinta um retrato preocupante de uma geração a ser capturada pela dependência mais cedo.
“Os cigarros eletrónicos estão a alimentar uma nova onda de dependência da nicotina”, afirmou Etienne Krug, diretor do Departamento de Controle de Doenças Crónicas e de Prevenção da Violência e dos Traumatismos da OMS, durante a apresentação em Genebra. A suposta alternativa menos nociva ao tabaco tradicional está, na prática, a funcionar como uma porta de entrada massiva. Krug não se coibiu: “estes produtos estão, na verdade, a viciar os jovens em nicotina mais cedo e a colocar em risco décadas de progresso”.
O relatório, que se baseia em mais de dois mil inquéritos nacionais, revela que o número total de utilizadores de cigarros eletrónicos ultrapassou a barreira dos 100 milhões a nível global, uma cifra que agrupa 86 milhões de adultos e aqueles 15 milhões de adolescentes. A esmagadora maioria concentra-se em países de rendimento elevado.
Esta tendência surge paradoxalmente num contexto de declínio histórico do tabagismo convencional. Desde 2000, o número de fumadores recuou 19,5%, descendo de 1,38 mil milhões para 1,24 mil milhões no ano passado. As projeções indicam que esta quebra deve continuar, com a taxa global de consumo a projetar-se para 17,4% em 2030. Os progressos, contudo, não foram uniformes. A descida foi acentuada entre as mulheres, cuja taxa caiu de 16,5% para 6,6% em 25 anos. Já entre os homens, a redução foi menos expressiva, de 49,8% para 32,5%.
A geografia do vício também se alterou. A Europa suplantou o Sudeste Asiático e tornou-se a região com a maior prevalência relativa de fumadores, atingindo 24,1% da sua população. É também no Velho Continente que se regista o pico de consumo entre adolescentes dos 13 aos 15 anos, com uma média de 11,6%, um valor que se equilibra estranhamente entre rapazes e raparigas. Nenhuma região do mundo consegue apresentar uma taxa de consumo juvenil abaixo dos 9%. Em contraponto, África mantém-se como a zona com menor consumo global, fixado em 9,5%.
Jeremy Farrar, diretor-geral adjunto da OMS para a promoção da saúde, lançou um aviso sobre a complacência. “Quase 20% dos adultos ainda usam produtos de tabaco e nicotina. Não podemos baixar a guarda agora”, disse, sublinhando a premência em proteger as novas gerações. O apelo da organização aos governos é para que ajam de “forma rápida e enérgica”, travando a expansão destes produtos e reforçando as restrições à sua publicidade e venda a menores.
NR/HN/Lusa



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