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Durante décadas, a obesidade foi encarada como um problema de força de vontade (ou da falta dela). Na verdade, é uma doença crónica, complexa e progressiva, com origem genética, metabólica e ambiental, e exige um tratamento médico multidisciplinar e estruturado. Atualmente, a questão que inquieta muitos doentes é a escolha da forma mais eficaz e sustentável de tratar a sua obesidade: medicamentos ou cirurgia metabólica?
A resposta pode surpreender muitos, mas a cirurgia é não só mais eficaz, como também mais económica, a médio prazo.
Os fármacos anti-obesidade mais recentes conseguem, nos ensaios clínicos, perdas de peso significativas (entre 15-20% do peso original), no entanto, os estudos demonstram uma dura realidade: se pararmos os medicamentos, a doença regressa, quase sempre. Além disso, os resultados são muito variáveis, de pessoa para pessoa, e nem todos conseguem atingir o efeito desejado.
Por outro lado, a cirurgia metabólica permite perdas de peso superiores a 30% do peso original de forma sustentada ao longo do tempo, sobretudo se associada a um acompanhamento médico regular.
O paradoxo económico surge quando o custo de um fármaco inovador pode variar entre os 100 e 300euros por mês, investimento que se prolongará por anos ou décadas. A cirurgia metabólica, apesar do seu maior investimento inicial, está associada a uma diminuição de custos, evidente já nos primeiros dois anos. Um estudo recente comprova que, nos EUA, o custo de tratar a obesidade com cirurgia diminuiu os gastos em saúde em mais de 10.000 dólares, ao final de dois anos. A comparação direta em utilização clínica do “mundo real”, comprovou também que nos doentes submetidos a cirurgia a perda de peso era, em média, cinco vezes superior aos doentes a quem foram prescritos fármacos anti-obesidade.
Apesar destes factos, a cirurgia continua a ser encarada por muitos como a “última opção”. Primeiro tentam-se múltiplas dietas, depois os medicamentos e só quando tudo falha é que se considera a cirurgia. E este é mais um paradoxo já que quase todos os doentes que passam pela cirurgia afirmam que o seu único arrependimento é não a terem feito mais cedo. Este atraso implica euros desperdiçados e custa anos de vida saudável, energia mal empregue e gera frustração acumulada. Isto verifica-se mesmo com toda a evidência clínica a sugerir que a cirurgia deverá ser oferecida mais cedo no curso da doença.
É importante sublinhar que a decisão de efetuar uma cirurgia não pode ser leviana e requer avaliação e preparação adequada, bem como um compromisso com um estilo de vida saudável no futuro e um acompanhamento médico continuado. Mas para os doentes com obesidade relevante é, sem dúvida, o tratamento que mais muda o curso da doença e melhor devolve a qualidade de vida.
Vivemos numa época em que a ciência é clara: a obesidade é uma doença e a cirurgia é o seu tratamento mais eficiente. Persistir na ideia de que a cirurgia é a última esperança, reservada apenas para casos extremos da doença, é perpetuar sofrimento desnecessário. A mensagem é simples: quanto mais cedo se tratar a obesidade de forma adequada, maiores são os ganhos para a saúde, para a economia e, acima de tudo, para a qualidade de vida de cada pessoa afetada.


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