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Helen Clark, que chefiou o governo da Nova Zelândia entre 1999 e 2008, vai assumir o leme da Gavi, a Aliança para as Vacinas. A organização confirmou hoje que a sucessão do português José Manuel Durão Barroso está marcada para janeiro de 2026, findos os seus dois mandatos à frente da entidade.
Num comunicado divulgado pela Gavi, Clark admitiu o calibre dos desafios que se avistam no horizonte, mas não escondeu um certo otimismo cauteloso. “Durante 25 anos, a Gavi protegeu toda uma geração de crianças contra doenças e ajudou países a crescer, prosperar e tornar-se mais autossuficientes. Os próximos anos trarão muitos desafios para a Gavi, mas também enormes oportunidades”, afirmou.
Durão Barroso, por seu turno, fez um balanço de um período de liderança que começou em 2021, “no auge da pior crise de saúde pública dos últimos cem anos”. O antigo presidente da Comissão Europeia deixou um legado operacional complexo, num período de fogo cruzado. Sob a sua batuta, a aliança distribuiu dois mil milhões de doses de vacinas contra a covid-19, um feito logístico colossal, ainda que pontuado por críticas sobre a equidade da distribuição inicial. Paralelamente, a organização introduziu pela primeira vez vacinas contra a malária, expandiu drasticamente a imunização contra o HPV e tentou, nem sempre com sucesso linear, recuperar a cobertura de imunização de rotina que a pandemia interrompeu.
O caminho que se abre agora para Helen Clark, que após o seu percurso governativo liderou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e preside ao Instituto Real de Assuntos Internacionais, não será simplesmente uma continuação. A Gavi tem o financiamento básico assegurado para o próximo ciclo estratégico, a arrancar em 2026, o que lhe dá alguma folagem. Mas as prioridades desenhadas pela organização exigem um pulso firme: um foco mais incisivo em regiões frágeis e devastadas por conflitos, onde os sistemas de saúde são frequentemente uma quimera, e a execução de um programa de reforma interna, o ‘Gavi Leap’, iniciado no ano passado.
A escolha de Clark, resultante de um processo seletivo que se arrastou por oito meses e escrutinou 240 candidatos, parece sinalizar uma aposta na sua experiência multilateral e num perfil político distinto. Ela herda não apenas a presidência, mas a missão de guiar a aliança por um terreno geopolítico mais fraturado, onde a confiança na vacinação nem sempre é um dado adquirido.
NR/HN/Lusa



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