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O Hospital Central de Nampula (HCN) prepara-se para lançar a sua segunda campanha de rastreio e tratamento direcionada a pessoas com albinismo, entre 13 e 17 de outubro. A ação surge na sequência de um primeiro rastreio, realizado em junho, que permitiu diagnosticar 16 casos de cancro de pele entre aproximadamente 160 pacientes examinados. Cerca de cinquenta tumores chegaram a ser removidos nessa ocasião.
Marcelo Banquimane, dermatologista no HCN, explica que a iniciativa pretende reforçar o acompanhamento médico especializado a um grupo populacional particularmente vulnerável aos efeitos da exposição solar. Os pacientes serão submetidos a exames para deteção precoce de lesões cancerígenas e pré-malignas, como a queratose actínica, condição comum devido à falta de pigmentação da pele.
Desta feita, a campanha contará com uma equipa reforçada de cinco dermatologistas e dois médicos da especialidade de cirurgia maxilofacial, apoiada pela organização não-governamental espanhola África Direto. Estão previstos diferentes tipos de tratamento, incluindo cirurgias e crioterapia, para além da distribuição gratuita de cremes protetores solares, considerados fundamentais na prevenção de novos casos de cancro de pele.
No entanto, os resultados da fase anterior são ofuscados por desafios logísticos que persistem. Banquimane não esconde a apreensão com o acompanhamento pós-operatório, sobretudo para quem vive em distritos longínquos. A limitação de recursos financeiros tem dificultado o transporte dos doentes de volta ao hospital para as consultas de controlo, um cenário que, segundo o médico, aumenta o risco de complicações ou de recidiva do cancro. “A falta de controlo pós-operatório pode comprometer os resultados alcançados, uma vez que algumas feridas podem infeccionar ou o cancro pode não ser totalmente removido”, alertou.
O apelo fica para que empresários locais e parceiros sociais possam apoiar na logística das futuras campanhas, nomeadamente no transporte de pacientes e de equipas médicas. Só assim, entende, será possível garantir um acompanhamento eficaz e contínuo após as cirurgias.
A campanha prevê abranger pessoas de 15 distritos da província. Já foram mapeados 148 pacientes oriundos de Nampula, Nacala Porto, Nacala à Velha, Nacarôa, Moma, Monapo, Malema e Lalaua.
Este esforço médico desenrola-se contra um pano de fundo social complexo. A 9 de junho, o Governo moçambicano admitiu que as pessoas com albinismo continuam a enfrentar “estigmas profundos” no país, incluindo mutilação, discriminação e exclusão social, prometendo ajustar a legislação para proteger o grupo. Na ocasião, Mateus Saize, ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, classificou a realidade como “uma ferida aberta na nossa consciência coletiva”.
As pessoas com albinismo têm sido vítimas de perseguições, violência e discriminação, alimentadas por mitos e superstições que as colocam entre os principais alvos de violações de direitos humanos. A profanação de sepulturas para saquear ossadas é também uma realidade sombria, com relatos de curandeiros africanos a pagarem valores que podem ultrapassar 70 mil euros por cada órgão de uma pessoa albina. Dados de 2023 da Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) indicam que, desde 2014, pelo menos 114 pessoas com albinismo desapareceram em Moçambique em circunstâncias não esclarecidas.
NR/HN/Lusa07



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