![]()
O governo nigeriano pôs em marcha esta terça-feira uma operação de imunização de dimensões continentais, um empreendimento logístico que pretende vacinar perto de 109 milhões de raparigas e rapazes com idades entre os nove meses e os 14 anos. O anúncio foi feito pela Aliança para as Vacinas (Gavi), uma das peças fundamentais neste que é o maior esforço integrado de vacinação alguma vez realizado no país.
A campanha, uma espécie de blitz sanitária, não se foca numa única ameaça. O leque de proteção é amplo e inclui imunização contra o sarampo e a rubéola, o vírus do papiloma humano (HPV) – com o objetivo declarado de travar futuros casos de cancro do colo do útero –, a poliomielite e ainda outras vacinas de rotina que compõem o calendário nacional. A iniciativa não brotou do nada; é antes o fruto visível de uma coligação pouco usual que junta o Ministério da Saúde da Nigéria, a Gavi, o UNICEF, a Organização Mundial de Saúde e uma constelação de organizações da sociedade civil e doadores privados.
O financiamento é, claro, um capítulo crucial. A Gavi injecta 103 milhões de dólares, algo como 88 milhões de euros, no projeto. Este montante, contudo, só faz sentido quando deitado sobre o tabuleiro de anos de investimentos silenciosos, mas consistentes, nos sistemas de saúde nigerianos. Fala-se de infraestruturas, da formação de milhares de técnicos e de ferramentas digitais que agora são chamadas a provar o seu valor num teste de fogo.
Para Jessica Crawford, gestora sénior da Gavi no terreno, a dimensão da tarefa é avassaladora, mas o momento é único. “Esta campanha é um marco histórico para a Nigéria e para a saúde global em geral”, afirmou, sublinhando que “chegar a mais de 100 milhões de crianças com vacinas que salvam vidas não é tarefa pequena”. O tom é de reconhecimento pela complexidade, mas também de um cauteloso otimismo.
A Nigéria, esse gigante demográfico com mais de 230 milhões de almas, onde mais de metade da população é jovem, encara esta operação como uma viragem. Um passo decisivo para escapar à sombra de doenças há muito controladas noutras paragens. O sucesso, agora, dependerá da capacidade de fazer chegar as equipas e as vacinas aos confins mais remotos do país, um desafio que vai muito para além dos números e dos discursos. A estrada será longa, mas o primeiro passo, esse, foi hoje dado.
NR/HN/Lusa



0 Comments