Nobel premiou investigação que abriu nova frente no combate a doenças difíceis

7 de Outubro 2025

O Nobel da Medicina distingue o trabalho de três investigadores na área da tolerância imunológica periférica. As descobertas abrem novas frentes no combate a doenças de tratamento difícil, podendo revolucionar terapias para cancro e doenças autoimunes

A descoberta de células que atuam como “guardiões” do sistema imunitário valeu esta segunda-feira o Prémio Nobel da Medicina a três investigadores. Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi foram distinguidos pelo seu trabalho pioneiro na compreensão da tolerância imunológica periférica, um mecanismo crucial que evita que as defesas do organismo ataquem os próprios tecidos.

Em declarações à Lusa, o investigador Miguel Castanho, do Instituto Gulbenkian para a Medicina Molecular, salientou que este ramo da ciência representa “mais uma frente que a ciência abre” contra patologias complexas. A evolução, notou, segue um percurso semelhante ao de outras terapias que começaram por ser experimentais e onerosas, citando o caso dos anticorpos, hoje banais na oncologia. “Hoje salvam milhares de vidas por dia”, observou.

O conceito de tolerância imunológica periférica refere-se à capacidade do sistema imunitário de distinguir entre o que é próprio do organismo e o que é estranho, tolerando o primeiro e combatendo o segundo. Os mecanismos agora premiados atuam numa fase mais tardia da resposta imunitária, quando as células defensivas já circulam por todo o corpo. As células T reguladoras, descobertas e estudadas pelo trio laureado, são centrais neste processo.

“Saber mais sobre a tolerância imunológica periférica torna possível pensar em formas de ajudar às necessidades dos doentes que sofrem destes males”, explicou Castanho. Quando estes mecanismos falham, o corpo pode desenvolver doenças autoimunes. Noutros contextos, como nos transplantes, a atividade imunitária, normalmente benéfica, transforma-se num obstáculo.

De acordo com o Comité Nobel do Instituto Karolinska, o trabalho dos investigadores “lançou as bases para um novo campo de investigação”. As descobertas, lê-se no comunicado, já estimularam o desenvolvimento de novos tratamentos para o cancro e doenças autoimunes, alguns dos quais se encontram atualmente em ensaios clínicos. A professora Marie Wahren-Herlenius, do mesmo instituto, sublinhou que o prémio incide sobre “a forma como controlamos o nosso sistema imunitário” para combater infeções sem provocar autoimunidade.

Esta linha de investigação poderá vir a quebrar o monopólio dos fármacos moleculares, antevê Miguel Castanho, abrindo caminho ao “uso de células como agentes terapêuticos”. Um campo ainda muito experimental, mas com potencial para se tornar vulgar no futuro.

NR/HN/Lusa

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