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O ritmo da destruição em Gaza dita que, a cada quarto de hora, uma criança palestiniana seja morta ou fique mutilada. Dois anos de guerra acumulam pelo menos 61.000 crianças vítimas, um número que a UNICEF classifica como avassalador. “As crianças sofrem física e mentalmente há demasiado tempo”, afirmou o porta-voz Ricardo Pires, em Genebra. “Foram expostas a horrores que nenhuma criança deveria ver, ficaram órfãs, perderam tudo.”
Apesar de um frémito de esperança pairar sobre as negociações de tréguas, os relatos no terreno descrevem uma violência que não arrefece. Bombardeamentos e ataques aéreos continuam a ceifar vidas no norte e no sul do enclave. Pires trouxe à colação um drama particular: dezoito bebés prematuros permanecem em zonas de conflito no norte de Gaza, juntamente com incubadoras e ventiladores que foram obrigados a abandonar quando o exército israelita ordenou a evacuação de hospitais.
No hospital Al-Helou, detalhou, estão dez bebés, um dos quais ligado a um ventilador mecânico, e doze incubadoras. Outros três centros de saúde guardam mais três bebés, cinco recém-nascidos e dezoito incubadoras. O porta-voz foi claro: muitos destes bebés não sobreviverão sem estes equipamentos. “Estamos a tentar mover essas incubadoras e ventiladores, mas até agora tem-nos sido negado”, confessou, acrescentando uma ténue expectativa de que a operação possa avançar antes do fim da semana.
O conflito, desencadeado pelo ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, que resultou em cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, levou o governo de Benjamin Netanyahu a prometer a aniquilação do grupo. A ofensiva israelita subsequente causou, segundo dados do governo do Hamas que a ONU considera fidedignos, mais de 67.000 mortos e 170.000 feridos. Do lado israelita, morreram 1.152 militares em vários teatros de operação.
A crise humanitária é aprofundada pelo bloqueio israelita à ajuda, com cerca de 460 palestinianos, entre os quais 154 crianças, a morrerem oficialmente de desnutrição. Um relatório independente da ONU concluiu no mês passado que Israel é responsável pela prática de genocídio em Gaza, uma acusação que as autoridades israelitas rejeitam, argumentando que o Hamas usa a população civil como escudo humano.
Enquanto isso, as negociações prosseguem de forma indireta no Egito, com um plano de paz norte-americano sobre a mesa. O Hamas aceitou alguns pontos, mas mantém outros em discussão, num frágil jogo diplomático que pouco altera, por agora, a realidade no terreno.
NR/HN/Lusa



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