Uma em cada quatro mulheres desconhece risco de recidiva do cancro da mama

8 de Outubro 2025

Uma em cada quatro mulheres que responderam ao questionário nacional lançado pela associação Evita admite saber pouco ou nada acerca do risco de recidiva do cancro da mama, a neoplasia maligna mais prevalente entre as mulheres em Portugal.

Segundo as conclusões do estudo, a que a Lusa teve acesso e que questionou mais de 1.100 mulheres de norte a sul do país, apenas uma em cada três dizem compreender perfeitamente o que significa este risco de recidiva, ou seja, de o cancro voltar.

“Ainda há muitas dúvidas”, diz a presidente da Associação Evita – Cancro Hereditário, Tamara Milagre, contando que este risco a acompanha desde os 14 anos, quando a mãe foi diagnosticada com cancro da mama, tendo vivido o resto da vida com medo de o cancro voltar.

Sublinha que, nomeadamente em mulheres jovens com cancro da mama, que têm, se tudo correr bem, muitos anos pela frente, “essa convivência constante com o medo e a ansiedade do cancro voltar é uma realidade”, insistindo na necessidade de garantir apoio psicológico.

O estudo pretendeu compreender como as mulheres portuguesas – tanto as que já foram diagnosticadas com a doença como aquelas que nunca viveram a doença na primeiro pessoa – percecionam o risco de recidiva do cancro da mama e avaliar o grau de literacia em saúde sobre este tema.

“O que se destaca é que o conhecimento sobre a possibilidade do cancro voltar, ou recorrer, existe, mas um conhecimento mais aprofundado não existe”, refere Tamara Milagre, acrescentando: “é uma temática que não está devidamente definida e abordada na consulta médica, porque obviamente que o médico oncologista, que é a primeira pessoa de eleição para dar essa informação, tem cada vez menos tempo em consulta para aprofundar certas matérias”.

O estudo, aplicado em julho e agosto deste ano pela Associação EVITA – Cancro Hereditário e pela Associação Careca Power e que contou com o apoio da Novartis, mostra que quase metade (46%) das mulheres vive com medo de que o cancro da mama volte, pensando nisso pelo menos uma vez por mês, e que o medo e a ansiedade são os sentimentos mais associados a este tema, afetando a qualidade de vida destas pessoas.

Tamara Milagre sublinha a necessidade de garantir apoio a estas mulheres, “contando com certeza com outros grupos profissionais ligados à área, como é o caso de enfermeiros, de psicólogos e talvez também de assistentes sociais”.

“É uma abordagem multidisciplinar que costuma acontecer no caso da doença oncológica, mas a temática específica da recidiva, da recorrência do cancro voltar, não está suficientemente abordada”, alertou.

Estes resultados apontam exatamente para a necessidade de assegurar acompanhamento psicológico e apoio emocional às sobreviventes de cancro da mama, integrando estratégias de gestão da ansiedade e do medo da recidiva nos programas de seguimento.

Os autores do estudo sugerem igualmente que a organização de grupos de apoio e promoção de práticas de bem‑estar, como ‘mindfulness’ e técnicas de relaxamento, poderá ser útil.

Em declarações à Lusa, Tamara Milagre disse esperar que os resultados ajudem a desenvolver “campanhas baseadas na evidência”, lembrando que o mês de outubro é dedicado ao cancro da mama, mas que é preciso continuar a insistir, para além de outubro, no tema da recidiva.

Conta que a Evita vai aproveitar para dar seguimento, com os dados recolhidos, à elaboração de materiais com os dados recolhidos, levando-os aos decisores políticos.

“No mês do cancro da mama fala-se muito sobre o cancro da mama, a deteção precoce (…), e ainda bem, é um tema muito pertinente, mas o cancro da mama tem várias vertentes. Ele pode voltar e pode ser de origem hereditária,”, afirmou a responsável, lembrando: “neste caso é perfeitamente prevenível, mas continuamos a falhar bastante nessa prevenção”.

Os dados recolhidos neste estudo indicam que o médico oncologista (91%) é a fonte de informação mais confiável e procurada, mas as mulheres também procuram informações na internet (42%) e junto de outros profissionais de saúde (42%).

lusa/HN

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