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A dor neuropática, uma condição complexa que atorva a vida a milhões, pode encontrar um aliado inesperado numa molécula familiar: a vitamina B12. Longe de ser uma panaceia, esta vitamina revela-se um pilar no suporte à integridade do sistema nervoso, com a sua carência a agravar sintomas e a suplementação a abrir caminhos para um melhor controlo da dor.
A ligação não é inteiramente nova, mas ganha contornos mais nítidos à medida que a evidência se acumula. O cerne da questão reside no papel crucial da B12 na produção de mielina, a bainha isolante que protege as fibras nervosas. Sem níveis adequados da vitamina, esta proteção degrada-se, deixando os nervos expostos e hiperexcitáveis, propensos a disparar sinais de dor incorretos. Paralelamente, o défice contribui para o aumento de homocisteína no sangue, um composto inflamatório que agride os vasos sanguíneos que nutrem os nervos, perpetuando um ciclo vicioso de dano e desconforto.
“A vitamina B12 é essencial para a síntese de mielina e regeneração axonal, protegendo os nervos de danos. Atua na redução da homocisteína e modula neurotransmissores, contribuindo para o alívio da dor neuropática”, confirma o Dr. Raul Marques Pereira, coordenador do Grupo de Estudos de Dor da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). O especialista sublinha que a suplementação tem um “efeito importante na função nervosa e na redução dos sintomas de neuropatia”.
A prática clínica começa a refletir estes achados. Ensaios clínicos, como um focado em lombalgia crónica, registaram reduções dramáticas na intensidade da dor e na incapacidade funcional após administração intramuscular de B12. A vitamina parece atuar de forma multifacetada: para além de suportar a regeneração nervosa, exibe propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, por vezes equiparadas às dos anti-inflamatórios não esteroides, mas com um perfil de segurança geralmente mais favorável.
O seu potencial amplifica-se quando combinado com outras terapêuticas convencionais, como certos antidepressivos ou analgésicos. Esta sinergia permite, em alguns casos, alcançar um controlo da dor mais robusto sem aumentar as doses de fármacos que, frequentemente, carregam efeitos secundários indesejáveis. O Dr. Raul Marques Pereira acrescenta que a B12 mostra maior eficácia em “neuropatia causada por compressão nervosa, neuropatia diabética, pós-herpética e induzida por quimioterapia”, especialmente quando administrada sob a forma de compostos ativos.
O desafio, contudo, permanece. O diagnóstico do défice de B12 nem sempre é straightforward, e os seus sintomas – fadiga, alterações de sensibilidade, dores – confundem-se facilmente com os de outras patologias. Apesar disso, a crescente atenção sobre o seu papel convida a uma maior suspeita clínica. Num panorama terapêutico onde a dor neuropática frequentemente resiste às abordagens padrão, corrigir um défice nutricional pode ser a peça que faltava no puzzle do tratamento, oferecendo uma via tangível para devolver qualidade de vida a quem vive com esta dor persistente.
NR/HN/Lusa



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