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A paisagem sanitária no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) desmorona-se a um ritmo vertiginoso. Um estudo recente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que escrutinou 240 estruturas de saúde nos Kivus do Norte e do Sul, revela que a esmagadora maioria, mais de 85%, enfrenta agora ruturas de stock de medicamentos essenciais. Uma situação que se degradou de forma acentuada em apenas alguns meses.
François Moreillon, chefe da delegação do CICV no país, traçou a evolução negra durante uma conferência de imprensa em Kinshasa. “Para efeitos de comparação, em abril, eram 71% de ruturas de stock”, declarou, sublinhando a velocidade do declínio. O documento apresentado aponta o dedo à violência armada, que corta rotas de abastecimento e aterroriza comunidades, e a um factor menos visível: o abandono progressivo de muitas organizações humanitárias, asfixiadas pela falta de financiamento.
A fuga de cérebros e de mãos experientes agrava o panorama. Quase 40% das unidades de saúde reportam agora a fuga de profissionais, deixando para trás equipas esqueléticas para lidar com uma procura que não para de crescer. O recrudescimento dos combates entre o grupo M23, apoiado pelo Ruanda, e o exército congolês, aliado a milícias locais, enche os corredores dos centros de saúde com um afluxo massivo de feridos. Mais de 70% das estruturas inquiridas receberam vítimas de armas desde o início do ano.
O paradoxo é amargo: mesmo quando os medicamentos conseguem ser obtidos, a sua distribuição esbarra nas linhas da frente intransponíveis e nos riscos logísticos de atravessar territórios disputados. Um acordo de paz assinado em junho sob mediação americana mostrou-se, até agora, letra morta. Os combates persistem, particularmente no Kivu do Sul, onde o M23 tenta expandir o seu controlo em direção a Shabunda. Enquanto a guerra se arrasta, o sistema de saúde, pilar último de uma população a braços com mortos e deslocados aos milhões, aproxima-se de um ponto de rutura sem retorno.
NR/HN/Lusa



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